Por mais Madonnas…

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Artigo/Opinião

Inicio com um verso da música “Frozen” de Madonna: “How can a life be what you want it to be?” – “Como a vida pode ser o que você quer que seja?” Madonna, com sua atemporalidade, ainda causa impacto na cultura, mesmo existindo aqueles, como nos versos de sua música “Frozen”, que insistem em permanecerem congelados – “When your heart’s not open” (quando o coração não está aberto) – trava-se uma desafiadora batalha daqueles que, para uma existência digna, necessitam que mudanças e avanços em questões importantes, como a violência de gênero e tantas outras, sejam reconhecidas como tal.

A riqueza que Madonna traz em sua performance não pode ser reduzida apenas a um símbolo sexual. Além de fazer uma revolução dentro de uma sociedade patriarcal e machista ao desafiar as normas sobre a sexualidade da mulher, ela confronta aqueles que dividem as mulheres em categorias como ‘mulher para casar’ e ‘mulher para ter uma vida sexual’. Ao se recusar a ser vista como um objeto, ela confronta a cultura dominante, mas também nos faz refletir sobre o fato de que ainda hoje muitas mulheres são vítimas de violência sexual. Uma mulher que é punida por despertar o desejo sexual em um homem revela a incapacidade deste último de controlar seus instintos animalescos e impô-los de maneira devastadora na vida da mulher, que muitas vezes não tem o privilégio de buscar meios de proteção.

A história de vida juntamente com a cultura daqueles que sofrem atos de violência são construídas e permanecem, dificultando a visualização e o reconhecimento de tais atos. Assim, o silenciamento pelo sistema de proteção que deveria defendê-los pode gerar um sentimento de culpa, pois reconhecem-se e são reconhecidos como elementos provocadores de tais atos.

A revolução que artistas, como Madonna, promovem não é perceptível aos olhos daqueles que permanecem congelados, fixados em padrões do que esperam que sejam. Freud também causou incômodo em sua época quando apontou que as manifestações da sexualidade iam além de apenas satisfazer uma necessidade sexual. Muitos anos se passaram desde o surgimento da psicanálise e a sexualidade ainda é um tabu. O intrigante é que, diante de tanta negação de sua existência, ainda nos deparamos com tantas atrocidades, especialmente com parte da população que é reconhecida como estando em vulnerabilidade relacionada à sexualidade.

Minha condição, como mulher, divorciada e mãe de três mulheres, teve efeitos a partir do meu encontro com a psicanálise. O conformismo de aceitar as coisas como são não faz parte do meu atual projeto de vida. Sempre me pergunto o que podemos fazer para transformar essa realidade hostil e devastadora que ainda enfrentamos?

Psicanalista Liana Gonçalves

Liana Gonçalves – Psicóloga e Psicanalista,  membro do Corpo Freudiano/Núcleo Teresina (PI).

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