Nesta quinta-feira (22), esgotam-se as possibilidades de os integrantes da expedição ao Titanic serem encontrados com vida, pois é quando acaba a reserva de oxigênio do submersível. Mesmo que o veículo seja encontrado e seus passageiros, resgatados, ficará a pergunta óbvia: o que leva alguém a se submeter a uma aventura tão perigosa, a ponto de ter de assinar um contrato em que assume o “risco de morte” na expedição?
Em primeiro lugar, há de se considerar que esse passeio (previsto para ser feito em oito horas, ida e volta) é para pouquíssimos humanos. Coisa de gente muito rica. Cada passageiro desembolsou R$ 1 milhão para a empresa OceanGate, uma espécie de agência de viagens de altíssimo risco.
Mal comparando, é reservado a pessoas que podem fazer a viagem oposta, à órbita da Terra, em um daqueles foguetes do Elon Musk com a passagem custando R$ 50 milhões. Rico fazendo riquice.
O caso do Titanic tem uma particularidade que torna a empreitada quase tediosa: os destroços do transatlântico estão a 3,8 quilômetros de profundidade desde 1912, quando ele afundou. O que já se mostrou, falou, escreveu, filmou e especulou sobre o navio torna o assunto praticamente esgotado; e uma visita ao local é um programa (além de ostensivo e temerário) ou fetiche, como se viu, pouco recomendável.
O diretor James Cameron visitou os destroços do navio 33 vezes, mas dessas incursões saiu a quarta maior bilheteria da história do cinema: sim, Titanic (do longínquo ano de 1997). O cineasta canadense tem verdadeira paixão pelos oceanos. Tanto que a maior arrecadação é de seu Avatar, de 2009. A terceira? Avatar: o Caminho das Águas. O cara manja.
Algum dos bilionários desaparecidos nas profundezas do Atlântico deveria ter se informado melhor ou telefonado para Cameron e pedido algumas dicas sobre que tipo de submersível e equipamentos de segurança ele usou em suas dezenas de mergulhos bem-sucedidos.
Muitos, ao verem as fotos do Titan, ficaram chocados. Uma van clandestina nas periferias das metrópoles oferece mais conforto e visibilidade do que aquela cápsula em que se meteram o bilionário britânico Hamish Harding, presidente de uma empresa de jatos particulares; Stockton Rush, CEO da OceanGate; e o empresário paquistanês Shahzada Dawood e seu filho, Suleman.
Junto está o mergulhador francês Paul-Henri Nargeolet, especialista nos destroços e cicerone dos passageiros. Detalhe: por não ter janelas, apesar do esforço para chegar àquela profundidade, a paisagem e o que sobrou do imenso navio seriam narrados por Nargeolet, mas vistos numa tela que reproduz imagens captadas por câmeras instaladas no exterior do Titan — veículo com 6,7 metros de comprimento, estreito, sem poltronas nem cadeiras e operado por um joystick (sim, um controle de videogame).
Vamos combinar, torcendo para que algum milagre aconteça e os tripulantes sejam resgatados: eles certamente poderiam ter tido essa fantástica experiência da poltrona da sala de suas mansões.