
Mesmo após o anúncio do Ministério da Saúde sobre suspender a vacinação contra covid-19 para adolescentes de 12 a 17 anos sem comorbidades, na semana passada, a maior parte das cidades brasileiras continua com a campanha para este grupo.
Mas a fala do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, gerou uma série de críticas de sociedades médicas e especialistas, por não ter respaldo nos fatos.
Dentre as justificativas do ministro para defender a não vacinação de adolescentes sem comorbidades estavam: um suposto recuo do Reino Unido no mesmo sentido, uma suposta orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde) e a morte de uma adolescente vacinada em São Paulo.
Todos os argumentos se mostraram equivocados nas horas seguintes ao pronunciamento de Queiroga.
No começo do mês, o JCVI (Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização) britânico concluiu que “a margem de benefício é considerada muito pequena” na imunização de jovens de 12 a 15 anos saudáveis.
Mesmo assim, o governo foi adiante com os planos de vacinar este grupo, com o aval de sociedades médicas e diante da volta às aulas.
Também não é verdade que a OMS tenha sido contra a vacinação de adolescentes. A entidade apenas defende a priorização dos grupos mais vulneráveis.
Em relação ao óbito da garota em São Paulo, uma junta médica de 70 profissionais analisou o caso da jovem e exames para concluir que ela teve uma doença autoimune rara sem relação provável com a vacina.
Diante de tantas informações nos últimos dias, o R7 reuniu algumas dúvidas comuns a fim de esclarecer mal-entendidos acerca da vacinação de adolescentes.
Em todo o mundo, especialistas são unânimes ao dizer que quanto maior a cobertura vacinal, mais rápido sairemos da pandemia. Para isto, é preciso avançar com a imunização para grupos em que já haja vacinas aprovadas.
A SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) divulgou nota na semana passada em que defende a vacinação de todos entre 12 e 17 anos com ou sem comorbidades.
“Apesar de diversos estudos oriundos de vários países estimarem que o número de casos de covid-19 na faixa etária pediátrica seja de 1% a 5% do total de casos confirmados, ainda que na sua maioria, apresentem formas leves ou assintomáticas, crianças e adolescentes não estão isentos da ocorrência de formas graves, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica, além de casos de covid-19 longa e suas consequências, especialmente em relação aos aspectos cognitivos envolvendo o aprendizado. O número de óbitos reportado no último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, somado ao total do ano anterior, é de 2.416 óbitos de crianças e adolescentes, representando mais do que a soma de todos os demais óbitos por doenças imunopreveníveis, o que denota o impacto da doença nessas faixas etárias”, diz o comunicado.

A única vacina autorizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) até agora para utilização em adolescentes com 12 anos ou mais é a da Pfizer/BioNTech, que utiliza tecnologia de RNA mensageiro.
O aval da Anvisa foi dado em 11 de junho. Cabe ressaltar que este imunizante possui registro sanitário definitivo no órgão regulador, ou seja, não é um produto “experimental”, como chegou a ser dito pelo presidente Jair Bolsonaro.
A própria agência se manifestou a favor da vacinação de adolescentes sem comorbidades
“Para as conclusões sobre eficácia, foram considerados 1.972 adolescentes vacinados. A eficácia da vacina observada foi de 100% para indivíduos sem evidência de infecção prévia por SARS-CoV-2, antes e durante o regime de vacinação, e 100% para aqueles com ou sem evidência de infecção prévia por SARS-CoV-2, antes e durante o regime de vacinação”, afirma a Anvisa em nota.
A bula da vacina Pfizer/BioNTech elenca as reações adversas pela frequência com que elas apareceram nos voluntários dos estudos, independentemente da faixa etária.
As mais comuns são: dor no local de injeção, náusea e vômito (entre 1% e 10% dos vacinados).
Depois aparecem: aumento dos gânglios linfáticos (ou ínguas), reações de hipersensibilidade [por exemplo, erupção cutânea (lesão na pele), prurido (coceira), urticária (alergia da pele com forte coceira), angioedema (inchaço das partes mais profundas da pele ou da mucosa)], diminuição de apetite, dor nos membros (braço), insônia, letargia (cansaço e lentidão de reações e reflexos), hiperidrose (suor excessivo), suor noturno, astenia (fraqueza, cansaço físico intenso), sensação de mal-estar e prurido no local de injeção. Estas reações surgem em 0,1% a 1% dos imunizados.
Qualquer vacina ou medicamento pode ocasionar uma reação grave, embora estas sejam raras em produtos aprovados por agências reguladoras. No caso da vacina da Pfizer/BioNTech, sabe-se que os riscos de eventos adversos graves superam os benefícios.
Ter a covid-19 oferece riscos muito maiores de complicações do que tomar a vacina.
Em adolescentes, especialmente do sexo masculino, foram observados casos de pericardite e miocardite após a segunda dose. A FDA (Agência de Medicamentos e Alimentos dos EUA) emitiu um alerta sobre o tema, assim como a Anvisa.
As agências reguladoras pontuam que a incidência desse tipo de reação é baixíssima e que o alerta serve para que pais e profissionais de saúde estejam atentos a sintomas pós-vacinação.
“Os sintomas — dor no peito, falta de ar, palpitações ou alterações de batimentos cardíacos — surgem alguns dias após a vacinação”, diz o órgão em nota.
Outro efeito adverso grave que pode ocorrer em qualquer faixa etária é a anafilaxia. Por isso, recomenda-se que indivíduos com histórico de alergias severas passem por avaliação médica antes da vacinação e que o procedimento seja feito em ambiente onde o paciente possa ficar em monitoramento nos minutos seguintes à injeção.
As reais motivações por trás do anúncio do ministro da Saúde são desconhecidas. Médicos e cientistas afirmam não haver uma explicação lógica, já que a orientação foi apenas para adolescentes sem comorbidades.
Se as possíveis reações adversas apontadas pela pasta fossem preocupantes, não haveria, então, razões para manter a aplicação em adolescentes com comorbidades.
Países como Estados Unidos e Israel já vacinam adolescentes há vários meses com o imunizante da Pfizer sem que tenha havido qualquer tipo de intercorrência em relação ao imunizante.
A Pfizer divulgou nesta segunda-feira (20) dados de um estudo com crianças de 5 a 11 anos que receberam o imunizante. A conclusão foi de que a vacina é segura e induz uma resposta imune robusta.
Com estas informações, a farmacêutica deve entrar com pedido para uso do produto nesta faixa etária junto a agências reguladoras dos EUA, Europa e também do Brasil.
“Desde julho, casos pediátricos de covid-19 aumentaram em cerca de 240% nos Estados Unidos, enfatizando a necessidade de saúde pública de vacinação”, afirmou o presidente-executivo da Pfizer, Albert Bourla, em comunicado à imprensa.