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segunda-feira, novembro 25, 2024

Recordista de bilheteria, novo filme na Netflix vai te deixar com o coração na boca e os olhos pegando fogo

Nada é capaz de deter o cinema de Taiwan. Cada vez mais criativos, os diretores taiwaneses misturam num único longa uma pletora de assuntos, e o que causa mais espécie é que, depois de uma infinidade de cenas sofisticadas, frenéticas, esteticamente irretocáveis, em que duas dezenas de personagens se cruzam por mais de duas horas, tudo chega ao fim da maneira mais orgânica, com uma ou outra grande reviravolta (ou não), mas sempre cativando o espectador, como se fosse proibido subestimar a inteligência alheia.

Em “Os Três Males”, Wong Ching-po mistura gângsteres e messianismo, dois temas obsessivos para a cultura asiática — este talvez mais recente que o primeiro —, tendo por base uma fábula chinesa milenar, e, por incrível que pareça, funciona. Durante o século 5º, “O Porco, a Cobra e o Pombo”, passou a ser citada em qualquer ocasião em que houvesse alguém disposto a passar a perna num interlocutor à primeira vista ingênuo. A sensualidade da cobra encanta o pássaro, que para de galho de galho contemplando a paisagem, e estrangula o cerdo, vaidoso de suas carnes, tal como o protagonista, fiel a sua natureza venenosa até o fim da tarde.

A Ásia tem cavado um espaço amplo na indústria cinematográfica recente de Hollywood, impulsionado a partir do drama “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005), do taiwanês Ang Lee, que conta a história de dois caubóis que se apaixonam. “Nomadland” (2020), dirigido pela chinesa Chloé Zhao, sobre uma mulher de meia-idade, desempregada e sem pouso certo, que roda a América à procura de um lugar em que se sinta em casa, virou o mais novo campeão de audiência e arrebatou junto a crítica.

Lee e Zhao tiveram seu talento reconhecido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood e levaram para casa seus homenzinhos dourados: os dois foram laureados com o Oscar de Melhor Diretor, sendo que o filme de Chloé Zhao também foi eleito o melhor de 2020. O filão explorado por Wong é mais tradicionalista, mas não menos fascinante.

Fazendo uma analogia com a China Antiga, o diretor, também a cargo do roteiro, situa seu filme na Taiwan caótica do nosso insano século, na ordem do dia devido às constantes ameaças de invasão do governo de Pequim. Wong conserva seu trabalho longe de polêmicas diplomáticas, e se concentra na trajetória deZhou Chu, um rematado bandido famoso nas cercanias de Taipé, que livra a região de três malfeitores renitentes de seu povo; ele mata dragões e tigres e, quando volta, o vilarejo está em festa, mas comemorando sua morte presumida: essa é a senha para mude seu destino.

Com Chen Kui-lin se dá o contrário. Padecendo de um câncer de pulmão terminal, o anti-herói de Ethan Juan se lança a uma cruzada por lugares recônditos de Taiwan em busca dos dois facínoras que as autoridades decidiram ser mais danosos à ordem pública que ele. Na metade da história, seu encontro com um deles, o falso profeta Lin Lu-ho vivido por Yi-Wen Chen, guru de uma seita neoapocalíptica, vale os 134 minutos, arrastados em boa parte do caminho, mas nunca gratuitos.


Filme: Os Três Males
Direção: Wong Ching-po 
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Ação 
Nota: 9/10

Fonte: R7 – Cinema

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