IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Em meio a uma onda de violência no dia de suas eleições gerais, o governo interino do Paquistão suspendeu os serviços de telefonia móvel no país de 241 milhões de habitantes, gerando acusações de violação de direitos dos eleitores.
O Ministério do Interior alegou, em nota no X, que a medida foi tomada para “manter a lei e a ordem e lidar com possíveis ameaças” após dois atentados assumidos pelo grupo terrorista Estado Islâmico terem matado 26 pessoas na véspera.
Até aqui, 9 pessoas já foram mortas em ataques no país neste dia de votação, 4 delas policiais atingidos por uma explosão em Dera Ismail Khan (noroeste). Milhares de soldados foram deslocados para fazer a segurança em seções eleitorais, e as fronteiras com o Irã e com o Afeganistão foram fechadas temporariamente.
Diversos grupos militantes islâmicos operam nas porosas áreas tribais que fazem divisa com os dois países, onde também agem terroristas baseados no Paquistão. Há duas semanas, uma troca de foto entre Islamabad e Teerã contra essas organizações levou temores do transbordamento das tensões do vizinho Oriente Médio para o conturbado Sul da Ásia.
Apesar do clima tenso e do frio invernal, jornalistas relataram longas filas para votar em todo o país. Os primeiros resultados devem ser divulgados nesta noite (tarde no Brasil), mas a composição das 336 cadeiras do Parlamento só devem ser conhecida na sexta (9).
Os líderes da oposição se queixaram do corte na telefonia. O Partido do Povo Paquistanês, de Bilawal Bhutto Zardari, pediu a “imediata volta” dos serviços, afirmando que a população precisa se manter informada, usar serviços de localização para encontrar suas seções de votação e poder denunciar fraudes.
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Na cadeia, o ex-premiê Imran Khan, cujas três condenações seguidas em uma semana configuram segundo seus aliados uma perseguição política óbvia, pediu que seus apoiadores retirassem as senhas do Wi-Fi de suas casas para que todos os eleitores pudessem acessar a internet na rua.
Segundo observadores, o partido do ex-premiê Nawaz Sharif é o favorito para levar a maioria das cadeiras. O próprio político descartou composições. “Não fale sobre governo de coalizão. É muito importante para o governo uma maioria clara, sem depender de ninguém”, disse, após votar em Lahore (leste).
A sigla de Sharif, a Liga Muçulmana do Paquistão, enfrenta principalmente candidatos apoiados por Khan, cujo partido PTI venceu o pleito de 2018 mas caiu no ano passado, após uma acusação de corrupção. Foi preso, solto, e agora detido novamente com novas condenações.
Estão em jogo também vagas nas assembleias legislativas locais. Podem votar 128,5 milhões de pessoas.
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Na esfera de influência da China, o Paquistão vive grave crise econômica, e recorreu a um pacote de ajuda de R$ 15 bilhões do Fundo Monetário Internacional em 2023. A instabilidade social é endêmica, assim como a violência de uma miríade de grupos armados, a maioria de caráter fundamentalista islâmico. O país é a única potência nuclear muçulmana do planeta.