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quinta-feira, maio 15, 2025

Artigo: Nos lugares invisíveis, a força dos líderes comunitários

No Brasil, onde a desigualdade social se materializa em becos, vielas, periferias urbanas e rincões esquecidos, são os líderes comunitários que mantêm acesa a chama da esperança. Em 5 de maio, celebramos oficialmente o Dia Nacional do Líder Comunitário, mas quem conhece a realidade das comunidades sabe que esse trabalho é diário, contínuo e, quase sempre, solitário. A celebração para homenagea-los deve ser todos os dias.

Essas lideranças surgem não por imposição ou por prestígio, mas por necessidade. São mães, jovens, professores, aposentados e trabalhadores que se recusam a aceitar a negligência como destino. Eles se levantam, diante da ausência do Estado, para organizar a coleta de lixo, reivindicar saneamento, defender mulheres vítimas de violência, abrir caminhos para o esporte, a cultura, a educação e a dignidade.

No Projeto Justiça para Todos, escutamos diariamente vozes que, sem cargos ou mandatos, fazem mais pela cidadania do que muitos agentes públicos. São eles que traduzem os direitos em realidades. Eles levam o termo “política pública” para a ponta da linha, onde uma decisão em Brasília pode significar comida na mesa ou a sua ausência.

As lideranças comunitárias enfrentam um desafio estrutural. Eles fazem muito com quase nada. E, ainda assim, constroem redes de solidariedade, enfrentam o crime organizado, ocupam espaços de poder e dialogam com instituições. Quando as políticas públicas chegam às comunidades, frequentemente o fazem por pressão ou organização desses líderes.

O Instituto Mulheres em Ação, que tenho a honra de ter fundado, trabalha com mulheres que lideram bairros inteiros. São guerreiras que, ao mesmo tempo em que cuidam de suas casas, conduzem movimentos sociais, alfabetizam adultos, acolhem crianças, protegem outras mulheres da violência doméstica e enfrentam estruturas patriarcais e racistas com coragem.

Essas lideranças, no entanto, ainda não recebem o reconhecimento que merecem. Falta formação continuada, acesso a recursos, proteção jurídica e institucional, sobretudo para aquelas e aqueles que atuam em áreas de risco.

Defender os direitos humanos em territórios conflagrados é, muitas vezes, um ato de resistência que custa caro.
Por isso, neste mês em que comemoramos o Dia do Líder Comunitário, faço um chamado à reflexão: qual é o papel do poder público na valorização dessas pessoas? Como as universidades, os órgãos de justiça, a imprensa e a sociedade civil podem se articular para fortalecer quem sustenta, na prática, a base da democracia?
Investir em líderes comunitários é investir em transformação social concreta. É garantir que políticas públicas não fiquem apenas no papel. É entender que a mudança começa onde o Estado ainda não chegou, mas onde o povo nunca deixou de resistir.

Renato Rocha, advogado e fundador do Projeto Justiça para Todos e do Instituto Mulheres em Ação

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