Em 2023, DF registrou cerca de 50 mil denúncias de golpes virtuais. PCDF é preparada, mas desvalorização da carreira e déficit no efetivo atrapalham no combate, diz sindicato.
Com a crescente onda de crimes de estelionato na capital do país, sobrecarga de trabalho na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e déficit médio de 50% no efetivo da corporação, os investigadores enfrentam um novo desafio: estancar o fluxo de golpes financeiros no ambiente digital, potencializados pela expansão e popularização das ferramentas de inteligência artificial (IA).
Em 2023, a PCDF registrou cerca de 50 mil denúncias envolvendo o crime de estelionato, uma média alarmante de 136 casos por dia ou cinco por hora. Das denúncias registradas, 582 inquéritos foram instaurados e apenas 171 suspeitos encaminhados à Justiça.
Por meio da IA, os criminosos conseguem imitar as vozes das suas vítimas e reproduzir vídeos dessas pessoas com base em fotos captadas em suas redes sociais, por exemplo. Esse método se tornou para os golpistas um dos modus operandi preferidos para obter vantagens financeiras indevidas contra familiares e conhecidos das vítimas, que são induzidos ao erro e enganados pela tecnologia usada para o crime.
O presidente do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF), Enoque Venancio de Freitas, destaca que o número de casos de estelionato no ambiente virtual cresceu exponencialmente na capital do país. Ele ressalta que, apesar de a PCDF ser uma polícia altamente preparada para lidar com esse tipo de crime, os investigadores estão desmotivados e sobrecarregados, e as demandas para solução são diárias e de natureza diversa.
“A não solução de casos de golpe financeiro pode gerar uma sensação de insegurança para os cidadãos e para os criminosos, impunidade. Hoje, diante do nível de sobrecarga na PCDF, dificilmente o policial consegue dar uma resposta efetiva a esse tipo de crime, pois os esforços estão concentrados em crimes que exigem uma resposta mais imediata, como homicídio, feminicídio e combate ao crime organizado”, explicou Enoque.
O sindicalista esclarece também que há fatores de desgaste físico e emocional que têm imposto um nível considerável de desmotivação sobre os policiais civis. O principal fator é a desvalorização da carreira, pois mesmo com o atual reajuste, ele alega que os salários da categoria estão muito abaixo da inflação. “Houve uma pequena correção, mas não houve aumento real. As nossas perdas salariais são de 10 anos. O reajuste médio não corrigiu esse problema”, enfatizou.
Outro ponto que prejudica as investigações no âmbito do combate aos crimes de estelionato virtual é a falta de efetivo na PCDF. Segundo Enoque, a PCDF tem atualmente um déficit médio de 50% no efetivo. Um dos fatores que contribui para esse quadro é a evasão de investigadores em busca de outras áreas de atuação com melhores condições salariais. “Isso acentua a escassez de policiais civis para combater esse tipo de crime, uma vez que sua investigação requer habilidades técnicas específicas. O cidadão cobra uma resposta rápida, e precisamos entregá-la. Nossa missão é investigar, mas estamos esgotados”, afirmou.
Ele ressalta ainda que as investigações para combater estelionatários, principalmente os que praticam crimes no ambiente virtual, vão além do trabalho local, pois muitos criminosos atuam em outros estados para fazer vítimas no DF. Esses casos, segundo Enoque, são os que mais demandam, já que os investigadores precisam se deslocar para outras unidades do país para cumprir mandados de busca, apreensão e prisão.
“Temos um grande desafio, pois a inteligência artificial está nas mãos dos criminosos. É um problema para além do combate em si. Se o Distrito Federal não puder contar com policiais civis motivados para o trabalho, essa ameaça dos criminosos pode ganhar um patamar ainda mais preocupante. É preciso investir na valorização dos investigadores e melhorar as condições de trabalho para que as demandas da população sejam atendidas conforme as expectativas”, pontuou o presidente do Sinpol-DF.