No verão do ano passado, em meio ao calor e às chuvas, Lohit YT, especialista em rios e áreas úmidas do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), embarcou com um grupo de amigos herpetólogos em uma expedição para estudar anfíbios nas encostas dos Montes Ghats Ocidentais, localizado na Índia.
O que inicialmente seria uma excursão rotineira transformou-se em uma descoberta científica intrigante.
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Um acontecimento incomum
Entre inúmeras rãs de dorso dourado intermediárias, o grupo se deparou com um anuro que tinha um pequeno cogumelo crescendo em seu corpo.
Curiosos pela cena inédita, na qual um fungo parecia ‘nascer’ de um anfíbio, o fato foi fotografado e a imagem, compartilhada nas redes sociais.
O estranho fenômeno dos cogumelos no corpo dos sapos – Imagem: Lohit YT/WWF – Índia/Reprodução
Investigando a situação
Os comentários recebidos indicaram que o cogumelo em questão poderia pertencer ao gênero Mycena, conhecido por se alimentar de matéria orgânica em decomposição.
Com estas informações, Lohit e seu coautor Chinmay C. Maliye reportaram a descoberta na revista Reptiles and Amphibians.
Para Matthew Smith, biólogo de fungos da Universidade da Flórida, que não participou da descoberta, o fenômeno é intrigante.
Segundo ele, um esporo de fungo, antes de produzir um cogumelo, precisa se instalar e produzir micélios, estruturas finas e ramificadas responsáveis por absorver nutrientes, semelhantes a pequenas raízes.
Uma vez que o micélio encontre nutrientes, ele produz o cogumelo, mas o micélio teria de estar na superfície da pele ou dentro do corpo do anfíbio.
Contudo, Smith assegurou nunca ter visto um cogumelo brotar de tecido animal vivo.
O mistério continua
Infelizmente, como a equipe de pesquisa não coletou a rã, não foi possível fazer exames para determinar se o cogumelo cresceu de dentro do corpo do anuro ou na superfície da pele.
Na sequência de comentários que as fotos receberam nas redes sociais, alguns micologistas sugeriram que o fungo poderia ter-se alojado em alguma ferida ou infecção no corpo da rã.
Como não foram encontradas evidências de ferimentos visíveis e o fungo não parecia estar afetando prejudicialmente o animal, um dos pesquisadores envolvidos na descoberta, Christoffer Bugge Harder, da University of Copenhagen na Dinamarca, sugeriu que possivelmente se tratava de ‘uma infecção de pele puramente superficial’ pelo Mycena.
Tal fato seria análogo a uma infecção fúngica humana, conforme Harder indicou à Forbes. O mistério permanece, enquanto os pesquisadores continuam a buscar respostas para esta descoberta incomum.
Em eventos como esse, podemos perceber como a natureza ainda possui muitos segredos a serem desvendados, mostrando a importância contínua da pesquisa em todas as áreas da ciência.