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segunda-feira, novembro 25, 2024

Indicado a 5 estatuetas do Oscar 2024, filme com atuação brilhante de Jeffrey Wright está no Prime Video

A arte antirracista é de suprema importância, pois é por meio dela que pessoas negras, principalmente, debatem problemas, denunciam crimes, expõem situações e expressam suas emoções para outras pessoas que jamais compreenderiam suas experiências na vivência. No filme “Ficção Americana”, de Cord Jefferson, produzido pelo Prime Video e indicado em cinco categorias do Oscar, o longa-metragem traz uma discussão válida e bastante polêmica: toda arte produzida por pessoas negras precisa abordar temas raciais? Até que ponto isso serve para alimentar o interesse de um mercado branco? Eu, pessoalmente, nunca pensei sobre isso. Nem mesmo cabe a mim debater o assunto, mas a Cord Jefferson, um cineasta negro, cabe. E ele o fez em seu pertinente longa-metragem “Ficção Americana”, que marcou sua estreia como diretor.

O enredo gira em torno de Thelonious Monk Ellison (Jeffrey Wright), um professor universitário que é colocado na geladeira depois de alunos denunciarem seu estilo de ensino e vocabulário escrachados. Palavras e frases explícitas provocam incômodo na comunidade acadêmica que, segundo a mentalidade do professor, está “sensível demais”. Monk é, também, escritor com algumas obras notáveis, mas há tempos não consegue publicar nenhum material. Seu estilo parece não mais se adequar a uma sociedade que quer ler autores negros que falam exclusivamente sobre antirracismo. Para Monk, esse tipo de arte tem servido apenas para reforçar estereótipos e entreter a massa branca de lacradores que tomou conta da internet. Para ele, tudo isso se tornou vazio, midiático e hipócrita.

Ao apresentar seu novo manuscrito para seu editor, Arthur (John Ortiz), ele diz que aquilo não é o que as pessoas querem ler, que o mercado pede por literatura “negra”. Monk responde: “Eu sou negro e eu escrevi o livro. Isso é literatura negra”. No entanto, aparentemente, o público quer mais materiais panfletários sobre a luta negra. Então, Monk decide se rebelar e criar um material satírico sobre o tema e assiná-lo sob um pseudônimo. Para sua surpresa, o livro que seria supostamente uma ofensa à literatura de engajamento social se torna um fenômeno, colocando Monk em um dilema profissional.

Afinal, se o ser é político, a arte também precisa ser? O filme não responde esses questionamentos que faz, mas propõe o debate. Por outro lado, o enredo também constrói críticas implícitas à arrogância hiperintelectual do protagonista. Monk se acha mais autêntico, inteligente e profundo que as outras pessoas. Por vezes, sua petulância o leva a ser machista com as mulheres que fazem parte de sua vida, seja sua irmã Lisa (Tracee Ellis Ross), seu interesse romântico Coraline (Erika Alexander) ou a adversária literária Sintara Golden (Issa Rae). Seu machismo também isola e oprime o irmão gay Clifford (Sterling K. Brown).

Jeffrey Wright é brilhante na pele deste personagem com tantas nuances e camadas, que possui elementos positivos e negativos, que vive conflitos internos e externos, que é bom e igualmente maldoso, que sabota a própria felicidade e sucesso com suas questões mal resolvidas do passado, com o pai ausente, sintomas de depressão e frustração profissional.

“Ficção Americana” é daqueles filmes em que um único personagem carrega toda a história. Ninguém mais é tão bem-desenvolvido e exige uma responsabilidade extrema do protagonista, coisa que Wright soube fazer com muita competência. Há vários pontos neste filme dignos de debate, que são provocativos, reflexivos, que podemos concordar ou discordar. Vale a discussão.


Filme: Ficção Americana
Direção: Cord Jefferson
Ano: 2024
Gênero: Drama/Comédia
Nota: 9

Fonte: R7 – Cinema

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