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quarta-feira, dezembro 25, 2024

Quem conseguiu ficar sem beber desde o Réveillon põe o dedo aqui

Este ano, pela primeira vez, encontrei pessoas no Brasil que estão tentando aderir ao Dry January , uma campanha de saúde pública do Reino Unido que propõe que as pessoas fiquem um mês sem beber nada alcoólico. Tentando é a palavra certa, porque todos os com quem falei já tinham cometido alguns deslizes: tomado três taças de vinho num jantar de trabalho, uma caipirinha no fim-de-semana na praia, um porre fenomenal numa sexta-feira com amigos fartamente documentada nos stories do Instagram…

Todos caíram, mas levantaram. E seguiam firmes no seu projeto de detox pós festas de fim de ano. Alguns caíram e levantaram algumas vezes por semana, mas, tudo bem, está valendo. Apoio toda tentativa de ser mais saudável e sou a favor de campanhas que visem melhorar a saúde pública.

Sei que, se der certo, uma campanha dessas pode fazer as vendas de bebidas alcoólicas caírem. Isso não muda minha opinião. Não trabalho para a indústria do vinho (embora tenha vários amigos nela) e, à diferença do que ouço toda hora da boca de muita gente que escreve sobre vinho, inclusive jornalistas de carreira, minha missão não é fazer o consumo de vinho subir no país. Minha missão, se é que tenho uma, é passar informações corretas e úteis aos meus leitores. E cuidar da saúde é útil.

Apenas sou cética. Acho difícil um movimento desses dar certo por aqui justamente em janeiro, mês de férias, praia, piscina e, o que é pior, esquenta para o carnaval. Posso estar errada, claro. Eu achava que a lei que proíbe fumar nos bares (e em redações de jornais e revistas, assim como em todo local público fechado) nunca iria pegar. Pegou. E eu mesma parei de fumar. Será que no próximo janeiro, ou no outro, vou estar bebendo gin tônica de gin sem álcool? Tenho minhas dúvidas.

O Dry January é uma iniciativa da ONG inglesa Alcohol Change, baseada na experiência da maratonista Emily Robinson que, em 2011, passou janeiro sem beber para treinar para uma prova de fevereiro e sentiu uma série de benefícios para a saúde. A campanha foi oficialmente lançada em 2013, com 4 mil pessoas inscritas. Este ano foram 200 mil inscritos, mas é bom lembrar que muita gente pode estar fazendo o detox sem se inscrever no site oficial. Várias pesquisas mostram que esse mês sem álcool traz benefícios durante o ano todo.

Muito antes de inventarem o Dry January, as pessoas já faziam promessas de maneirar na bebida, fazer dieta ou mesmo parar de beber depois do Réveillon. Eu mesma não lembro quantas vezes prometi entrar em dieta em janeiro (o que incluía não beber). Tinha mais sucesso com isso na época em que janeiro era mês de viajar com meus pais.

Conseguir ficar um mês sem beber não é fácil, mas não é impossível. Já fiz isso várias vezes. Uma vez, por sinal, fiquei cinco meses sem colocar uma gota de álcool na boca. Na época, eu não escrevia sobre vinho. Quando o seu trabalho inclui provar vinhos, fica mais difícil. Porém, acredito na moderação e no hábito de beber menos taças de vinho, mas de vinhos melhores, que podem ser um pouco mais caros.

Nem todos os leitores concordam comigo. Tudo bem. Cada um sabe onde dói e, para a maioria dos mortais, dói no bolso. Contudo, depois que o carnaval passar, proponho um Março Mais Seco, algo um tanto diferente do Dry January. Em vez de consumir duas garrafas de R$ 30,00, tente beber só uma de R$ 60,00. Se já consome rótulos de R$ 60,00, tente trocar duas de R$ 60,00 por uma de R$ 120,00. E assim por diante. Só cuidado para em abril não voltar à velha quantidade e manter o preço dobrado. É um risco.

Fonte: Folha de S.Paulo – Gastronomia

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