A indústria brasileira espera uma alta de mais de 15% no preço do café ao consumidor final nos próximos meses.
A estimativa foi fornecida pelo presidente da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), Pavel Cardoso, em entrevista coletiva concedida nesta quinta-feira (1º).
Cardoso diz que o aumento no preço do café cru tem sido “exponencial” e que o setor industrial tem absorvido a maior parte dessas variações.
“Mas aqui estamos falando de um efeito severo, que a indústria não pode segurar sob pena de travar seus negócios, encurtar seu capital e acometer a saúde financeira dos seus negócios”, disse.
“Então haverá e já está havendo aumentos para o trade e, naturalmente, chegará aos consumidores nos próximos 30 a 60 dias”, afirmou Cardoso.
O provável aumento se deve a questões climáticas e a pressões do mercado internacional, além da recomposição de perdas que o setor absorveu no ano passado.
“É bem sabido por todos que nos últimos dois meses nós tivemos uma estiagem severa ocasionada pelos efeitos mais intensos do El Niño, que trouxe preocupação para toda a lavoura”, disse Cardoso. “O resultado foi um aumento exponencial, uma curva preocupante de ascendência do preço da matéria-prima, notadamente do robusta, em função da escalada do preço na Bolsa de Londres.”
Por isso, o preço deve aumentar cerca de 10% de imediato e mais 5% a 7% nos próximos meses. “Pela média que nós fizemos, algo em torno de 10% agora em janeiro e fevereiro e, se isso não se arrefecer, se esse movimento de alta nas Bolsas não se arrefecer, potencialmente outros 5% a 7% em março”, disse.
Ele esclareceu, contudo, que a alta não é certa, mas uma estimativa. Explicou ainda que se trata de uma recomposição do movimento de preços observado em 2023, no qual o café para o consumidor final teve uma queda de 13,5% enquanto que a matéria-prima caiu apenas 1,8%.
Na entrevista para apresentar o resultado do setor no ano passado, a Abic informou que o consumo por pessoa de café no Brasil cresceu 7,47%. No período de novembro de 2021 a outubro de 2022, o brasileiro consumiu uma média de 4,77 kg de café por ano. Nos 12 meses seguintes, esse valor passou para 5,12 kg.
Os dados da Abic confirmam a tendência de gourmetização pela qual o mercado brasileiro vem passando, ainda que seja um movimento modesto em termos de volume de vendas. Os cafés das categorias tradicional e extraforte, que são os carros-chefe da indústria, perderam espaço para os produtos gourmet, especial, em cápsulas e solúvel.
A classe tradicional/extraforte representava 87,16% de todo o café vendido no Brasil. O valor no ano passado passou para 85,52%. Ainda é a esmagadora maioria, mas o crescimento das classes gourmet tem sido constante.
A entidade mostrou também que um dos focos para os próximos anos deve ser no sentido de ampliar a participação no mercado internacional. Como o Café na Prensa mostrou, a indústria cafeeira brasileira planeja ampliar a exportação do produto final, que ainda tem patamares tímidos se comparado ao volume que é cultivado no país.
O Brasil é o maior produtor mundial do grão. É também o líder global na exportação do grão verde, que é industrializado —torrado, moído e embalado— por empresas no exterior.
A ideia da Abic é que agora o país conquiste mais espaço neste mercado internacional de café já industrializado, isto é, pronto para consumo.
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