Colaboração: Antonio Carlos Mello Cesar
1 – Ayrton Senna e a chuva.
Os alemães construíram um novo circuito no autódromo de Nurburgring batizado de Sudschleife com 7,74 km. A Mercedes organizou um evento de inauguração no dia 12 de maio de 1984. Convidaram pilotos ativos da F1 e ex-pilotos como James Hunt, Dennis Hulme, Carlos Reutemann, John Watson, Jody Scheckter para uma prova com carros de rua da montadora. O modelo escolhido foi o 190 E, 2.3 litros 16 válvulas quase sem preparação, igual para todos.
Enquanto uma chuva leve e persistente molhava o circuito os pilotos entraram na pista para uma breve prova de classificação antes da corrida. O piso escorregadio fazia com que todos evitassem as zebras, menos um novato em seu primeiro ano de F1, Ayrton Senna, arrojado, habilidoso subia nas zebras fazendo voltas extraordinárias.
Primeira fila Senna e Prost. Acho que ali começava a grande rivalidade entre os dois, Senna larga bem, assume a ponta e desaparece. Pós-corrida Prost acusa o brasileiro de joga-lo para fora da pista pouco depois da largada.
2 – Piquet e os pneus.
A temporada de 1984 foi desastrosa para Nelson Piquet, o motor BMW da sua Brabham quebrou em quase todas as corridas. Nelson conseguiu 09 poles e apenas 02 vitórias. Para 1985 aparentemente os problemas de confiabilidade no propulsor mais potente da categoria haviam desaparecido, o carro era estável, a dupla piloto engenheiro, Piquet e Gordon Murray, uma das melhores. O conjunto indicava um ano triunfante.
Por outro lado Bernie Ecclestone, dono da Brabham, muito mais preocupado com os dólares que poderia enfiar no bolso do que nas vitórias da sua equipe, estragou tudo.
A Pirelli não vencia uma corrida desde os anos 50, Bernie por milhares de libras aceitou calçar a Brabham com os pneus Pirelli, enquanto a Goodyear abastecia as principais equipes inclusive a Ferrari. Uma temporada desastrosa, apesar dos 12000 km de testes na pista de Kayalami.
Murray colocava mais peso na parte traseira do carro visando melhorar a tração, em diversas ocasiões os pneus dianteiros sequer atingiam temperatura suficiente para gerar aderência, na chuva então os pneus Pirelli tornavam o Brabham inguiável. Porém graças ao potentíssimo motor BMW, a excelência do projeto e um grande piloto conseguiram vencer o GP da França, apesar da Pirelli que arruinou uma temporada promissora.
3 – Um piloto gay na F1.
Sem fazer qualquer juízo de valores quero apenas contar uma história. Bem, dito isto, vamos falar de Mike Beuttler único piloto gay entre centenas que já passaram pela F1.
Após bons resultados na F3 e F2 financiado por amigos da bolsa imobiliária londrina, Mike adquiriu um March F1 montado sobre chassis F2 e motor Ford Cosworth 3.0. Foram apenas 28 provas entre 1971 e 73 e a melhor colocação aconteceu no GP da Espanha, sétimo lugar.
De início, tentando abafar rumores, comparecia nos autódromos acompanhado de belas modelos. Nos finais de semana das corridas frequentava festas, comemorações, sempre escoltado por um bando de colegas gays e as dúvidas acabaram confirmadas quando Mike assumiu publicamente a homossexualidade.
Depois da F1, mudou-se para S. Francisco, Califórnia, onde as comunidades LGBT ganhavam força e visibilidade. Morreu aos 48 anos em 1988, devido complicações causadas pelo vírus da AIDS.
4 – Loucuras dos tempos onde se corria por paixão e gloria.
O campeão mundial de 1951 tentava deixar Paris, uma greve nos aeroportos o impedia de sair da capital francesa. Fangio havia se comprometido com a Maserati e os organizadores a participar de uma corrida em Monza que não contava pontos para o campeonato, espécie de première da temporada 1952.
Sábado lá pelas tantas da noite, como último recurso, decide alugar um carro e dirigir 1000 km até Monza na Itália por estradas que nem de longe lembram as rodovias modernas. No balcão da locadora pede um carro possante alegando que precisa estar na região da Lombardia pela manhã. A recepcionista sorri e ironiza: Quem o senhor pensa que é? Fangio?
Qual a surpresa da moça ao conferir os documentos e constatar que estava diante do próprio Fangio em carne e osso.
O piloto argentino dirige a noite inteira e corre cansado sem dormir. Na segunda volta perde o controle da Maserati e voa entre as árvores adjacentes ao asfalto. Um acidente terrível.
Fangio sofre diversas lesões, a mais grave delas o pescoço quebrado e o risco de ficar paralítico. Uma longa coalescência impede o piloto de correr a temporada de 1952, todos julgavam Fangio acabado. Seis anos depois comemorava o quarto título consecutivo e quinto da sua carreira.
Antonio Carlos Mello Cesar
São Paulo – SP
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