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terça-feira, dezembro 24, 2024

Ici Bistro mantém qualidade em novo endereço e é opção de bom almoço por menos de R$ 100

A sabedoria popular diz que mexer em time que está ganhando é sempre um risco. No início do ano passado, o Ici Bistro —apontado pela Folha por muitos anos como o melhor restaurante francês de São Paulo— precisou mudar. Empurrado pela especulação imobiliária, deixou a charmosa casa em que operava há quase duas décadas na rua Pará e se instalou na Mato Grosso, também em Higienópolis e a uma quadra do endereço anterior.

Em um primeiro momento, a mudança poderia ser vista como um problema. O ambiente perdeu muito do seu charme, ficou menos aconchegante, mais amplo, mais claro e até com uma acústica menos intimista e acolhedora. Nas primeiras semanas na casa nova era possível sentir um clima tenso e um serviço ainda se adaptando à mudança.

Mas a notícia boa é que, depois de quase um ano, a cozinha provou que continua funcionando muito bem e mantém o alto nível que levou à repetida premiação da casa do chef Benny Novak e do empresário Renato Ades.

O cardápio foi revisto, mas não chegou a passar por uma mudança radical. Permanecem os clássicos franceses, que mantiveram sua qualidade.

Logo na entrada, é como colocar o pé (e a boca) no que há de melhor na França. O foie gras (R$ 178) é servido delicado e com boa caramelização, e os escargots (R$ 73) são graúdos e chegam mergulhados em manteiga, alho e salsa, que casam muito bem quando comidos com o ótimo pão da casa.

Entre os pratos principais, o peito de pato (R$ 133) continua brilhando. Servido com creme de foie gras, figo confitado, purê de batatas e manteiga de trufas, já está consolidado como um dos carros-chefes da casa. Também com pato, a coxa confitada (R$ 133) tem a pele bem sequinha enquanto a carne se desfaz no garfo. Em uma visita recente, foi um tanto decepcionante que eles não tivessem disponível a costeleta de carneiro, que também costuma se destacar, mas não faltam outras opções interessantes no cardápio, como boeuf bourguignon, o cassoulet ou mesmo um croque madame e até um hambúrguer.

Para finalizar, a tarte tatin (R$ 58), torta de maçã caramelizada, é preparada na hora, chega à mesa ainda quentinha e pode ser uma ótima opção para dividir (oficialmente para duas pessoas, mas pode servir até quatro tranquilamente).

É verdade que os preços do cardápio principal podem ser proibitivos para a maioria das pessoas, com valores acima de R$ 100 por prato, mas o Ici manteve em seu novo endereço a proposta de oferecer um almoço executivo bem mais democrático, possibilitando conhecer a cozinha pagando bem menos.

De segunda a sexta, é possível comer entrada, prato principal e sobremesa por R$ 86 (mais os 13% de serviço e a bebida). Não chega a ser barato, mas entrega uma alta qualidade pelo preço cobrado. Isso vale mesmo considerando que junto com a mudança de endereço tenha havido uma perceptível reduflação, com aparente diminuição de alguns pratos —mas o menu continue sendo suficiente para uma pessoa.

Entre as opções para começar se destaca o delicioso steak tartare, pequenino, mas refrescante e com boa textura e tempero bem equilibrado. Também pode-se escolher uma salada, mas é melhor pular os ovos com espinafre, servidos de forma um tanto simplória e sem graça em um almoço recente.

Entre os pratos, o destaque é o steak & frites (talvez o almoço mais popular de Paris), com ótimo medalhão de filé servido sempre no ponto certo e acompanhado de quatro opções de molho e de abundantes fritas fininhas e sequinhas. O coq au vin é a opção mais tradicional e é uma aula de como deve ser feito o prato de frango cozido em vinho tinto, com molho encorpado e cheio de sabor.

É evidente que a boa comida superou o trauma da mudança, e que o Ici continua uma grande opção de grande gastronomia francesa em São Paulo.

Fonte: Folha de S.Paulo – Gastronomia

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