Antes da divulgação dos dados oficiais de óbitos na Terra Indígena Yanomami revelando aumento de 6% em 2023 na comparação com o ano anterior, o governo federal publicou uma matéria, no início de janeiro, comemorando a então redução de mortes e atribuindo o fato às ações interministeriais. O título dizia que “ações do Ministério da Saúde reduzem número de óbitos no território Yanomami“. À época, o levantamento revelava 308 mortes em 2023 e 343 em 2022. Um mês depois os números foram atualizados e o registro subiu para 363 no ano passado.
“O Ministério da Saúde esclarece que a queda de óbitos é um dos resultados da operação do Governo Federal que, desde janeiro [de 2023], atua para salvar vidas e combater a crise humanitária enfrentada por essa população nos últimos anos”, dizia o texto.
A pasta justificou que a matéria foi feita com base nos números disponíveis em janeiro e que, posteriormente, foram atualizados. O secretário de saúde indígena, Weibe Tapeba, justificou, ainda, que os dados referente aos últimos anos não são confiáveis em razão da desassistência ocasionada pelo garimpo ilegal.
“Consideramos de forma equivocada uma análise, um comparativo de dados, desse ano de 2023 com 2022. Até dados novos apresentam uma complexidade na interpretação. Estamos tratando de um povo que inclusive tem dificuldade de tratar sobre o tema morte”, disse o secretário, completando que há possibilidade de subnotificação inclusive em 2023 em razão de comunidades ainda não alcançadas.
A nova secretária da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, acrescentou que 2023 está sendo considerado o “marco zero” de ações concentradas no território Yanomami. “Temos a certeza de que certamente temos subnotificação. Mas agora sabemos que temos, onde, e temos um mapeamento, um diagnóstico do que está acontecendo no território, o que é diferente dos anos anteriores. Então podemos dizer onde estão os vazios assistenciais e as principais dificuldades”, afirmou.
Diante da gravidade do cenário, o governo anunciou na quinta-feira (22) ações para reforçar a assistência no território, incluindo a criação de um hospital indígena em Boa Vista, que ainda não tem data para ser entregue, e 22 unidades básicas de saúde para começarem a funcionar ainda este ano.
Em janeiro de 2023, uma portaria do Ministério da Saúde declarou emergência de saúde pública de importância nacional na Terra Indígena Yanomami, localizada em Roraima. A medida ocorreu em razão dos graves casos de desnutrição e de malária que atingem a comunidade que vive na região.
O governo também realizou operações para a retirada de garimpeiros e reabriu seis dos sete polos-base existentes no território Yanomami. Apesar das ações, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, reconheceu a necessidade de mais ações para socorrer os indígenas.
“O ano de 2023 não foi suficiente para a gente resolver toda a situação instalada ali, com a presença do garimpo, com a presença de quase 30 mil garimpeiros convivendo ali diretamente no território, aliciando e violentando os indígenas, impedindo que as equipes de saúde chegassem ali. Agora a gente sai desse estado de ações emergenciais e passamos ao estado de ações permanentes”, afirmou a ministra.
De acordo com o governo federal, houve aumento de 53% no número de profissionais em atuação no território, passando de 690 profissionais para 1.058 entre 2022 e 2023. “Entre os profissionais do Mais Médicos, o número passou de 9 para 28 em atividade. Com isso, 10 mil atendimentos foram registrados e 3,8 mil pacientes tiveram alta da Casa de Saúde Indígena. A Operação Gota registrou 59 mil vacinas aplicadas em 2023, maior número da história”, ressaltou a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde.