SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A fuga de dois presos de uma penitenciária de segurança máxima de Mossoró (RN), nesta quarta, deve servir de oportunidade para que o atual modelo do sistema seja repensado, na avaliação de Rafael Godoi, professor de sociologia do departamento de Ciências Sociais da Uema (Universidade Estadual do Maranhão).
Segundo ele, a proposta apresentada pelos presídios de segurança máxima não funciona e está sendo revista em todo o mundo.
“O modelo da super max não é eficiente. Os efeitos na taxa de criminalidade não têm sido observados. É um modelo que gera mais violência. A promessa de uma solução pelo isolamento não se cumpre e essas unidades acabaram sendo importantes no processo de nacionalização de organizações criminosas do Sudeste”, diz.
A fuga dos dois presos foi constatada por agentes na manhã desta quarta-feira (14). Essas foram as primeiras ocorrências do tipo em penitenciárias de segurança máxima federal desde a inauguração do sistema em 2006.
Entretanto, o especialista afirma que o ineditismo se refere apenas a configuração atual.
“A história do sistema de segurança máxima não começa em 2006. Tivemos a penitenciária de Bangu 1, que tinha essa proposta e foi palco de fugas. Antes ainda teve o presídio da Ilha Grande, que também registrou casos. A fuga não é uma novidade”, diz.
Sobre o caso específico da unidade de Mossoró, Godoi disse que por ora é preciso ter cautela nas avaliações do que ocorreu, já que os detalhes sobre as circunstâncias da fuga não foram divulgados. Mas, para ele, o caso terá o efeito de desmistificar a efetividade de isolar as lideranças do crime da forma como está sendo feito atualmente.
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Entre as avaliações necessárias para o sistema prisional brasileiro, segundo o pesquisador, está a análise sobre penas alternativas para crimes sem violência e a habitabilidade dos locais, já que o aumento da população carcerária e as condições nas quais vive são instrumentos usados pelas organizações criminosas para conseguir membros.
Ao todo, há cinco presídios federais de segurança máxima, localizados em Catanduvas (PR), Campo Grande (MS), Mossoró (RN), Porto Velho (RO) e Brasília (DF). A penitenciária que fica em Mossoró foi inaugurada em 2009 e tem capacidade para até 208 presos.