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sexta-feira, novembro 22, 2024

Filme que acaba de chegar à Netflix vai fazer você querer ficar em casa no final de semana

Que a arte salva não é novidade alguma. Entretanto, houve um tempo em que o mundo mergulhou numa longa noite de obscurantismo, violência e barbárie mais e mais refinada, num ciclo assombrosamente metódico de pavor e retrocesso, contrabalançado por reações intermitentes de conformidade, revolta, organização e luta, nem sempre bem-sucedidas, é verdade, mas incansáveis. George Clooney dirige e protagoniza “Caçadores de Obras-Primas”, um relato comovente e dinâmico da hegemonia nazista sobre Europa durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) também sob o ponto de vista da dominação cultural. 

Diabolicamente astuto, Adolf Hitler (1889-1945) sempre soube que uma das formas mais efetivas de subjugar os povos que mantinha sob seu tacão era sequestrar-lhes a dignidade por meio da apropriação ilícita e covarde do que possuíam de mais valioso, aquilo que os distinguia entre si e permitia-lhes sonhar com uma liberdade ainda muito distante. O roteiro de Clooney, Grant Heslov e Robert M. Edsel insiste nesse argumento, revelando episódios verídicos de uma expedição americana à Bélgica e à França em busca dos tesouros da humanidade pilhados pelos alemães, cornucópia de sucessos e fracassos já mostrada pelo cinema algumas vezes.

Dessas histórias, plenas de movimento, às vezes quase a ponto de cansar o espectador, situações impensáveis em tempos de normalidade política e personagens ricos, complexos, plurais, para o bem e para o mal, vão saindo das brumas do tempo para se apresentar sob uma forma um pouco menos abstrata, adquirem contornos humanos, com suas dores e suas glórias, seduzem, graças à intrepidez de suas ações, ou escandalizam e provocam o asco devido à psicopatia, à indiferença para com os demais, ao ódio indisfarçado e orgulhoso quanto a seu comportamento bárbaro.

Aos poucos, temas espinhosos — e batidos —, como, claro, a liderança de Hitler na Alemanha dos anos 1930 e 1940, ganham abordagens novas e excepcionais, o que leva à conclusão imediata de que o assunto não está superado e de que é sempre necessário se falar sobre suas questões mais nebulosas.

Em Gante, no noroeste belga, um homem examina um quadro do século 6º. Com calma, o diretor põe as coisas em seus devidos lugares, e Frank Stokes, o oficial do exército americano vivido por Clooney, decide que mesmo sob ameaça real de bombardeio, os Aliados estão imbuídos do dever moral de resgatar a tela, uma dentre as várias outras de que o enredo ainda vai falar. Essa conversa remete o público àquelapraia da Normandia, após o Dia D da Operação Overlord, em 6 de junho de 1944, e senhores um tanto idosos para o combate escorregam pelas franjas do mar tentando fazer sua parte, para que, setenta anos mais tarde, gente deste insano século 21 se deleite com a apreciação da Madona das Rochas de Leonardo da Vinci (1452-1519) ou, claro, o Davi de Michelangelo Buonarroti (1475-1564). Surgindo aqui e ali, a figura opulenta e acolhedora de John Goodman quebra o excesso de rigidez de uma narrativa tétrica, mas necessária, que aponta para um final ditoso, mas pontilhado pela morte de bravos anônimos que entregaram sua vida pela beleza.


Filme: Caçadores de Obras-Primas
Direção: George Clooney
Ano: 2014
Gêneros: Guerra/Thriller
Nota: 8/10

Fonte: R7 – Entretenimento

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