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domingo, novembro 24, 2024

Embrapa Cerrados aproxima mais de 350 estudantes das pesquisas voltadas para o bioma

A enxertia, técnica que possibilita criar uma planta a partir da junção de partes das plantas, ao invés da propagação a partir da sua semente, além de reduzir o tempo de frutificação, é capaz de gerar uma planta com maior interesse econômico. Esse foi um dos conhecimentos adquiridos por Ana Beatriz Teodoro, estudante do 2°ano do ensino médio do colégio estadual da Polícia Militar de Goiás Doutor César Toledo, em Anápolis (GO).

Sobre os benefícios da pesquisa científica para os agricultores e para a sociedade, ela concluiu: “Antes, os agricultores tinham que acordar de madrugada, já que a flor da pitaya só abre de madrugada para ser polinizada. Hoje, tanto por conta da Embrapa, como por conta da ciência, a gente conseguiu atualizar e aumentar a diversidade de frutas, legumes e de tudo que temos para comer”.

Beatriz foi uma das cerca de 350 estudantes do ensino fundamental e médio de escolas públicas e particulares do Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais que conheceram de perto pesquisas científicas que estão relacionadas ao que estão aprendendo na escola.

Nos meses de julho, quando é comemorado seu aniversário, e setembro, com a celebração do Dia do Cerrado, a Embrapa Cerrados abre suas portas para receber os alunos dos ensinos fundamental e médio e apresentar a esse público as tecnologias e soluções que contribuíram e contribuem para o atual protagonismo do Cerrado na agricultura brasileira.

De Anápolis, 55 alunos, acompanhados pelo professor de biologia André Renato, visitaram o centro de pesquisa no último dia 13. O intuito de levar os alunos à Embrapa Cerrados, segundo o docente, é instigá-los a pensar em nível profissional e de forma sustentável: “Queremos que eles tenham um pensamento crítico e cunhem a profissão pensando na sustentabilidade do planeta”. Essa é a terceira turma que o professor leva à Embrapa Cerrados. Ele conta que os alunos que fizeram a visita em anos anteriores continuam se lembrando do que viram e dos conhecimentos aprendidos.

Para a turma, os temas apresentados foram gestão ambiental produtiva, pelo pesquisador Felipe Ribeiro; controle biológico de insetos-praga, pelos bolsistas Sadi Bidinoto Junior e Thales Santos; Serviços climáticos, pela técnica Thaíse Sussane. No período da tarde, a turma conheceu as pesquisas de melhoramento genético em fruticultura e da água na agricultura.

 

A diversidade de alimentos

As atividades do segundo semestre foram concentradas na segunda semana de setembro. No dia 10, alunos do ensino médio do colégio Madre Carmen Salles assistiram à palestra sobre a Embrapa Cerrados e o impacto das tecnologias para a agricultura brasileira, apresentada pelo supervisor de Transferência de Tecnologia, Sérgio Abud.

Em seguida, os 35 alunos foram divididos em dois grupos, que se revezaram para entender como é feita a análise da saúde do solo, por meio da tecnologia de Bioanálise do Solo. O assistente Clodoaldo Souza falou sobre a importância de os produtores rurais saberem como está o material biológico nesse recurso tão importante para a agricultura e destacou como a saúde do solo impacta a produção e a qualidade dos alimentos. Enquanto isso, outra parte da turma aprendeu sobre melhoramento genético em fruticultura com os bolsistas Aisha Ribeiro, Ianny Gomes, Nathan Moreira e Gabriel Sartori. Ao grupo, foram apresentadas espécies resultados de anos de pesquisa, como as variedades de pitaya e de maracujá desenvolvidas pela Embrapa.

Alice Rezende, do 1º ano, contou que nunca havia provado o maracujá Pérola do Cerrado, ou melhor, que nem sabia da sua existência até esse dia. “Está sendo uma experiência muito boa. Estou conhecendo e provando alimentos que eu nem sabia que existiam. E agora também entendi que a agricultura é muito importante para o Brasil”.

O mesmo aconteceu com Laura Stephanie, que não conhecia outros tipos de maracujá além dos azedos. Ela ainda contou que até a visita à Embrapa Cerrados não gostava de maracujá. Mas sua opinião mudou ao provar oPérola do Cerrado, uma cultivar silvestre, doce e que pode ser consumida in natura. “Eu gostei desse [maracujá], achei a textura dele diferente, é pequeno e fácil de comer”, explicou.

William Santos, professor do colégio, conta que os alunos da primeira série estão envolvidos em um projeto chamado Feira Científica Cultural (FEC), no qual estão pesquisando sobre agricultura. A outra turma participa dos Itinerários Formativos, cujo tema de trabalho do semestre é a implantação de uma horta, com atenção às questões físicas, químicas e biológicas envolvidas. “Na primeira apresentação que vimos aqui, até eu fiquei impressionado em relação à grandeza que é a agricultura aqui. Então com certeza os alunos voltam com mais entusiasmo para a sala de aula”, disse.

 

De Minas para Brasília

Na manhã do dia 12 de setembro, cerca de 40 alunos e quatro professores da Escola Estadual Delano Brochado Adjuto, de Paracatu (MG) ouviram do chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Unidade, Fábio Faleiro, explicações sobre a atuação da Embrapa Cerrados, a transformação do bioma em grande produtor de alimentos, fibras e energia e a importância social do agronegócio.

Os estudantes, entre 15 e 17 anos, cursando entre o 9º ano do ensino fundamental e o 3º ano do curso de técnico em agropecuária, visitaram o Laboratório de Qualidade da Água, onde a técnica Daphne Muniz falou sobre as análises de qualidade da água realizadas no laboratório, como as de um projeto de pesquisa em que amostras são coletadas em 30 propriedades de seis núcleos rurais do DF não abastecidos pela Caesb. No projeto, são feitas análises de coliformes, metais, matéria orgânica, entre outros parâmetros. Em outro projeto, estão sendo avaliados os impactos da agricultura na qualidade da água na região de Mambaí (GO). Ela explicou que a qualidade da água está relacionada ao uso que será feito, como consumo humano, animal ou irrigação.

Sob a sombra de um baruzeiro, os bolsistas Amanda Ribeiro e João Pedro Reis falaram sobre a biodiversidade do Cerrado, destacando os experimentos com pequi com e sem espinhos, para avaliação e seleção de plantas mais precoces; e as características, usos e benefícios nutricionais do baru, bem como os experimentos para avaliação da polpa dos frutos.

A professora Edneya Gomes esclareceu que as turmas estão estudando, em sala de aula, a vegetação do Cerrado em um projeto chamado “Sementes do Amanhã” para recuperar a nascente do Rio Santa Isabel, que abastece Paracatu, e que o conteúdo visto na Embrapa Cerrados foi bem adequado ao conteúdo com que estão trabalhando. “Eles preparam e cultivam as sementes de baru em viveiro. Também estão trabalhando a análise do pH da água em virtude da presença das mineradoras no município, que devem devolver a água para o ambiente com a mesma qualidade que receberam”, explicou.

Para Gabriel Guieiro e Erick Júnior, ambos de 17 anos, alunos do 3º ano do curso de técnico em agropecuária, a visita à Embrapa Cerrados trouxe novos conhecimentos. “As apresentações ajudaram a ter uma percepção melhor sobre como tratar a água, da genética das plantas e sua utilização no mercado e no reflorestamento”, disse Gabriel. “Descobrimos novas análises de água. E o pequi sem espinhos, para nós, é uma novidade. A demanda em Paracatu é muito grande e não temos frutos suficientes”, completou Erick, que também se mostrou curioso com a diversidade de pesquisas desenvolvidas pelo centro de pesquisa.

 

O conhecimento sobre a pesquisa científica

Já no período da tarde, foi a vez de 35 alunos do 8º ano do Colégio Militar Dom Pedro II visitarem o laboratório de microbiologia de solo. “O solo é vivo e essa vida presente no solo é muito importante”, afirmou aos estudantes o pesquisador Fábio Bueno, que recebeu o grupo em conjunto com o assistente Clodoaldo Souza. “Nós usamos essa vida para dizer se um solo está saudável, se está doente ou adoecendo, por meio da análise de duas enzimas que medem a biologia do solo”, explicou o pesquisador ao tratar da tecnologia de Bioanálise de Solos.

A visita foi encerrada na área externa do centro, onde foram repassadas aos alunos informações mais detalhadas sobre o bioma Cerrado e sua rica biodiversidade. Por fim, os alunos puderam conhecer um pouco sobre o baru e as pesquisas relacionadas com esse fruto nativo do Cerrado, as características do fruto, da castanha, suas propriedades funcionais e medicinais e seus diferentes usos. “Gostei muito da visita e voltaria muitas outras vezes. Quando eu estiver mais graduado, quero voltar aqui com certeza para ver como andam as pesquisas e se vocês têm mais novidades”, contou o estudante Guilherme Attiê.

Julia Freitas, estudante de Anápolis, juntamente com sua colega Teodora Stolano, não conheciam a Embrapa e seus trabalhos e disseram que nunca imaginaram que existem tantas tecnologias por trás dos alimentos que consomem. “O que eu achei mais surpreendente é que tem frutas que são ‘criadas’ em laboratório, pela ciência. Tem um maracujá que ainda nem foi lançado no mercado, ele é mais doce, ele é diferente, e está lá, foi criado pela pesquisa, assim como o pequi sem espinhos”.

O assistente da Embrapa Cerrados, Clodoaldo Souza, gostou muito de receber os alunos. Ele conta que a equipe se preparou para falar em uma linguagem mais simples, menos técnica, e percebeu grande interesse das turmas, que fizeram perguntas e interagiram. “Eu achei maravilhosa essa iniciativa. É muito importante mostrar para os jovens o trabalho que fazemos na Embrapa e a importância da agricultura brasileira. E não podemos nos esquecer de que os jovens são o futuro da Embrapa”, conclui.

As visitas de turmas dos ensinos fundamental e médio serão retomadas em julho e setembro de 2025. Os interessados devem preencher o formulário de solicitação de visitas: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdkmHmkrU8SgKYEdM4c2pRLa_AHdGdMCAV9YHIQTP0AglsxhA/viewform

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