O Distrito Federal enfrenta um déficit de pelo menos 2,6 mil médicos da atenção primária, clínica médica e emergencista, segundo dados de um levantamento exclusivo realizado pelo R7 pela Lei de Acesso à Informação. No entanto, segundo a Secretaria de Saúde, alguns serviços do nível ambulatorial e hospitalar estão em fase de parametrização, “não sendo possível apresentar dimensionamento” da falta de profissionais da Atenção Secundária. À reportagem, o Sindicato dos Médicos do DF avaliou que o déficit deve ultrapassar 4 mil profissionais.
Apenas no caso de anestesistas, a rede pública disse que seriam necessários 507 servidores com carga horária de 20 horas semanais para atender a demanda atual. Em janeiro, o R7 mostrou que o tempo de espera por cirurgia ortopédica no Hospital do Paranoá, referência em atendimento de trauma ortopédicos, chega a 60 dias. A demora para os procedimentos na unidade e em outras do DF seria principalmente devido à falta de anestesistas.
No cenário de combate à dengue, em que o DF já registrou mais de 46 mil casos prováveis e 11 mortes pela doença, o déficit agrava a situação de enfrentamento à doença. Nos últimos quatro anos, 754 profissionais se desligaram da rede pública. Os motivos são diversos, mas em resposta ao pedido, a Secretaria de Saúde reconheceu que enfrenta dificuldade para apresentar planos de carreiras atrativos aos profissionais.
“Todas as especialidades estão passando por momentos de dificuldade de serem alocados no serviço público, porque os salários não são mais atrativos e com as mudanças de aposentadoria não há benefícios em permanecer na Rede SES. Há uma tendência de indivíduos de várias profissões e áreas migrarem para um serviço com perfil e salários mais competitivos. Bem como com a opção de oferta de trabalho em período definido, em vista da hora extra que era mais vantajosa”, disse a pasta em resposta ao pedido via Lei de Acesso à Informação.
Em visitas e ações de combate à dengue nas últimas semanas, a vice-governadora do DF Celina Leão declarou que “a dengue tem estrangulado ainda mais a saúde pública”, com superlotação nos hospitais e nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento).
Celina, no entanto, destacou em conversas com a imprensa que a sobrecarga não é exclusiva da rede pública e que a rede privada também enfrenta desafios no atendimento aos doentes.
Questionada sobre o cenário, a Secretaria de Saúde disse que tem “atuado na renovação e aumento do quadro de seus servidores”. “Foram nomeados, em 2023, 747 médicos de diversas especialidades, 241 enfermeiros, 132 cirurgiões dentistas e 565 especialistas em saúde. Em 2024, já foram nomeados 23 médicos e 75 agentes de vigilância ambiental e atenção comunitária à saúde”, afirmou.
A pasta também disse que não “mede esforços na contratação de profissionais para suprir a demanda da população e reforça que novas nomeações e concursos estão sendo estudados, conforme disponibilidade orçamentária com a finalidade garantir a legalidade e o equilíbrio orçamentário/financeiro das contas públicas do Governo do Distrito Federal”.
‘Falta interesse’
Presidente do Sindicato dos Médicos no DF, Gutemberg Fialho avalia que falta interesse do governo em estruturar medidas que atraiam os profissionais de saúde.
Professora de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciência da Saúde da Universidade de Brasília, Helena Eri Shimizu pontua que o cenário deixa a população prejudicada. “Isso gera falta de assistência, e o fato de não termos um número exato da falta de médicos também é um grande problema para o sistema de saúde para conseguir solucionar o problema”, afirma.
Helena acrescenta que a falta de profissionais atinge desde a atenção primária até a atenção especializada, com falta de médicos para cirurgias, por exemplo. “A Secretaria de Saúde tem que fazer os concursos para suprir, rever o plano de carreira e pensar na fixação desses profissionais. Sem isso, a população não tem acesso aos serviços necessários”, afirma.
Saúde mental
O desafio, no entanto, não atinge unicamente a clínica médica e os emergencistas. No fim do ano passado, o R7 revelou que o déficit de psiquiatras nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) ultrapassa 1,6 mil horas semanais. A defasagem é enfrentada em 10 das 11 categorias que atuam nos CAPS da capital do país, segundo levantamento realizado em outubro.
Os técnicos administrativos, por exemplo, têm um déficit de 2,4 mil horas semanais, seguido pelos terapeutas ocupacionais (1,5 mil horas semanais), assistentes sociais (1,4 mil horas semanais) e psicólogos (1,2 horas semanais).
Além da falta de profissionais, os CAPS ainda precisam dar conta de uma cobertura populacional até quatro vezes maior que o indicado pelo Ministério da Saúde.