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sábado, novembro 23, 2024

Dengue: Apesar da disparada no RJ, projeto com mosquito manipulado ajuda a reduzir casos em Niterói

Na contramão da disparada dos números da dengue no estado do Rio de Janeiro — especialmente a capital que enfrenta uma epidemia da doença, com 10 mil casos em 2024, o município de Niterói, na região metropolitana, registrou apenas três confirmações no mesmo período, segundo dados da prefeitura. O resultado é atribuído em grande parte a um projeto que utiliza o mosquito transmissor do vírus manipulado em laboratório para fazer uma barreira de proteção.

Líder do programa no país, o pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Luciano Moreira, conta que Niterói é a primeira cidade brasileira 100% coberta pelo método Wolbachia. O trabalho começou em 2015, com a introdução na natureza de mosquitos com a bactéria de mesmo nome. Segundo o especialista, ela é capaz de bloquear a transmissão de arboviroses, como dengue, zika e chikungunya.

“Acredito que o método tenha capacidade de ter uma grande influência nessa redução de casos de dengue em Niterói. É importante salientar que todo o contexto de uma epidemia é multifatorial. São várias coisas que podem acontecer para ocasionar ou não uma epidemia: temperatura, ambiente e ações da comunidade. A gente já mostrou, em 2021, um artigo científico com a redução de cerca de 70% de casos de dengue no município em relação ao histórico prévio”, explicou o pesquisador.

Em entrevista ao R7, o especialista fez questão de reforçar que o projeto da Fiocruz é mais uma medida de combate à dengue e outras ações para eliminar focos do mosquito precisam ser mantidas: “É muito importante dizer que as pessoas devem continuar a fazer o dever de casa. Não vamos flexibilizar e deixar de cuidar do quintal, ter atenção com os vasinhos de planta”.

Como funciona o método Wolbachia?

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Luciano Moreira explica que a Wolbachia, bactéria presente em cerca de 60% dos insetos, é inserida em ovos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue.

Após determinado tempo, os mosquitos com Wolbachia são liberados para se multiplicarem na natureza. 

“Quando o mosquito macho com a Wolbachia cruza com a fêmea no campo, que não tem essa bactéria, ela fica estéril. E, por outro lado, a fêmea pode cruzar com macho com ou sem Wolbachia que todos os descendentes vão nascer contendo a bactéria”, disse Moreira.

A descoberta foi feita por um grupo de cientistas na Austrália, entre 2008 e 2009, e contou com a participação do pesquisador da Fiocruz. O especialista destaca que o processo é sustentável e não oferece riscos para seres humanos nem para o meio ambiente.

Expansão para outras cidades do Brasil

Após a implementação do projeto em Niterói e em regiões do Rio de Janeiro, o mosquito com Wolbachia já está presente em outras cidades do país, como Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS) e Petrolina (PE) — em fases diferentes de estudo e análise.

“Em 2024, vamos para seis novos municípios. O Ministério da Saúde anunciou, no final do ano passado, numa visão já de política pública de saúde. A pasta vai testar vários métodos para pensar um controle [nacional] integrado”, adiantou Moreira.

Para ampliar os trabalhos, o pesquisador ressalta a importância da construção da nova biofábrica, resultado de uma parceria do IBMP (Instituto de Biologia Molecular do Paraná) com a Fiocruz e o WMP (World Mosquito Program), na produção de ovos do mosquito com Wolbachia. 

“Nosso gargalo, hoje, era a produção de mosquitos em larga escala, e a gente espera que, no próximo ano, consiga atender mais municípios. A ideia é ir para locais que tenham níveis epidêmicos de casos de arbovirose”, concluiu. 

Fonte: R7 – Rio de Janeiro

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