O bar Caracol está de endereço novo. Depois de deixar a rua Jaguaribe, no centro de São Paulo, onde funcionou por cinco anos, e passar por uma temporada no Conjunto Nacional, na avenida Paulista, ele chegou mais perto do fervo da Barra Funda nesta sexta-feira, 15 —a uma passarela de distância dele, mais precisamente.
O novo ponto escolhido pelos sócios Millos Kaiser e Thiago Visconti é uma casa de dois andares no número 160 da rua Boracéa, antes ocupada por uma marcenaria e um ateliê de arte.
É um salto para o Caracol, que abriu as portas em 2018 em um imóvel menor que se alongava por um comprido corredor dividido por um balcão e que desembocava numa área aberta com arquibancada.
No salão principal, ao lado de drinques caprichados, também saíam discotecagens aguçadas que rapidamente transformaram aquela área em uma pistinha de dança disputada e o bar em um dos pontos mais apreciados pelos audiófilos de São Paulo.
É que, além do tino musical que juntava nomes brasileiros e internacionais no centro da cidade, a casa também foi precursora de um cuidado acústico que só viria a despontar mais recentemente em bares da cidade. No espaço, tudo partia de um sistema de som analógico, uma caixa de som da década de 1970 importada de Oregon, nos Estados Unidos.
No primeiro semestre o bar trocou de sede depois de deixar o imóvel onde foi fundado —a Santa Casa, proprietária do terreno, demoliu a construção e tem planos de transformar o local em um estacionamento para o hospital que fica próximo dali. Agora, o Caracol aproveita para expandir e dar mais espaço para seus pontos mais fortes: a música, a coquetelaria e a gastronomia.
“É um espaço com mais experiências possíveis porque a arquitetura dele permite isso. São dois andares, um terraço e um foco grande na rua, que é mais tranquila e vai ter dois parklets, além serviço e som voltados para fora”, diz Kaiser, um dos sócios.
“Dá para o cliente ficar ali, escutando um som sem nem entrar no bar, jantar lá embaixo numa luz mais baixa, numa mesa de mármore e uma cadeira boa, ou dançar na pista e ficar numa arquibancada no andar de cima. É um lugar que dá para ser vivido de várias formas”, conta.
O som do térreo do bar, explica o sócio, é o mesmo da outra casa e faz coro à nova onda dos listening bars dedicados à experiência sonora que apareceram nos últimos meses em São Paulo. O Caracol, aliás, é citado como primeiro exemplo desse modelo pelos donos dessas novas casas, como a Domo e o Matiz, embora não tenha sido feito para reproduzir a tendência nascida no Japão há cerca de um século.
“Importei essa ideia de um lugar em que toquei em Londres há uns oito anos e onde as pessoas ficavam muito quietas para ouvir a música, só que acho isso inimaginável no Brasil. Mas a sala do primeiro andar é desenhada para esse sistema de som muito bom e vai ter uma programação de discotecagem feita por colecionadores e pessoas que tenham discos legais”, diz.
Essa curadoria vai ser acompanhada por um cardápio com opções para jantar e petiscar, como o cavaquinha roll (R$ 62), crustáceo com aïoli e vinagrete de laranja no brioche, e o bolovo de alheira (R$ 35). A carta de drinques também foi repensada, com opções como o dry plinia (R$ 42), com infusão de jabuticaba, gim, vermute seco e solução salina, e o enzoni (R$ 38), com uva verde, gim, Campari, limão e açúcar.
Do lado de cima, a estreita pistinha disputada na Jaguaribe ganha tamanho mais adequado para receber DJs com um novo sistema de som potente, com festas que devem seguir até as duas da manhã de quinta a sábado e, no domingo, acontecer durante a tarde.
É esta a maior novidade do Caracol. “Nós queríamos resgatar essa experiência de clube, uma coisa quase perdida em São Paulo, que agora tem muitas festas itinerantes e em espaços muito grandes”, conta Kaiser.
A entrada deve variar entre a colaboração espontânea e ingressos em torno de R$ 30. A ideia, no entanto, é a de que os espaços conversem entre si, com programações complementares —tudo sob a energia intimista pela qual o Caracol ficou conhecido.