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quinta-feira, dezembro 26, 2024

Como não é possível dizer que Milei está errado, dizem que ele é louco

(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 20 de janeiro de 2024)

Até algum tempo atrás, na Rússia comunista, o sujeito que discordava do regime democrático-popular então em vigência por lá era preso e internado num hospício — em geral, por períodos de quinze anos. A ideia mãe desse tipo de providência era bem simples. Só mesmo um louco poderia estar dizendo esse tipo de coisa, e lugar de louco é no hospício. De lá para cá o sistema KGB para o tratamento de opiniões não-aceitáveis foi emigrando para as sociedades mais democráticas do planeta, e hoje é a estrela-guia das camadas sociais que descrevem a si próprias como “progressistas”. A prática corrente não exige a prisão em hospício — pelo menos para a maioria dos que ofendem a religião ideológica imposta a todos. Mas mantém intacto o princípio da ditadura soviética: quem diz coisas contrárias ao pensamento único dos que mandam na vida pública é chamado de “louco”.

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Ninguém oferece uma prova mais cristalina dessa realidade do que o presidente da Argentina, Javier Milei. Ele tem um problema fundamental: é a principal, talvez a única, voz entre os chefes de Estado no mundo de hoje que fala em favor da liberdade. Para a maior parte da mídia mundial, as classes iluminadas e os bilionários com “pegada social”, é um escândalo. Como alguém pode estar falando num absurdo desses — liberdade? O tempo em que se considerava a liberdade um valor positivo já acabou, na opinião deles todos. Ao contrário: trata-se de uma das ideias mais perigosas em circulação hoje em dia no planeta. Dá para imaginar alguma liderança tida como “democrática” falando em liberdade? Alguém seria capaz, ainda, de sustentar que os homens nascem livres e têm o direito de viver como querem desde que cumpram a lei? Dizer isso virou uma ameaça à democracia, tal como ela é entendida pelas autoridades constituídas. É loucura.

“[Milei] diz que só o trabalho, o talento e o mérito são capazes de criar riqueza”

J. R. Guzzo

Não se demonstra, pela lógica comum, o que há de errado com as propostas de Milei. Ele diz que, sem liberdade, não é possível construir nenhum tipo de sociedade onde valha a pena viver. Diz que só o trabalho, o talento e o mérito são capazes de criar riqueza. Diz que a noção pela qual os representantes do povo devem ter mais direitos que os representados, ou tratamento legal melhor do que o deles, é demente. Diz que todo homem público tem de receber do Estado as mesmas condições de vida do cidadão comum. Diz que não há registro na história de que algum regime socialista tenha criado uma sociedade próspera. O que há de louco em qualquer coisa dessas?

Mas é aí, justamente, que está o problema todo — falar a verdade tornou-se uma ameaça. Como não é possível dizer que Milei está errado, dizem que ele é débil mental.

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Leia também: “O silêncio dos censores”, artigo de J. R. Guzzo publicado na Edição 197 da Revista Oeste

Fonte: R7 – Internacional

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