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sexta-feira, dezembro 27, 2024

Com Johnny Depp e Forest Whitaker, filme digno de Oscar está na Netflix e você vai querer assistir duas vezes

Los Angeles é uma cidade estranha. Em que outro lugar no mundo policiais e gângsteres acham de frequentar os mesmos ambientes, saem com as mesmas garotas, com quem partilham os segredos mais escabrosos, e crimes hediondos e acompanhados de perto pela imprensa ficam sem solução e inexplicados pelo resto da eternidade? É claro que há uma razão até óbvia para isso, pela qual “City of Lies” navega com algum denodo.

O assassinato brutal do rapper Christopher George Latore Wallace, o The Notorious B.I.G. (1972-1997), em 21 de maio de 1972, onze meses depois da morte de Tupac Shakur (1971-1996), igualmente precoce e igualmente violenta, em 16 de junho de 1971, acende a luz vermelha de que algo vai muito mal na Cidade dos Anjos — ou das mentiras, segundo o título —, e por extensão nos Estados Unidos, chaga que, meio século depois, segue aberta.

Brad Furman mergulha na saga de um detetive tomado de uma urgência autodestrutiva quanto a botar no(s) assassino(s), não para pavonear-se diante das indefectíveis câmeras dos onipresentes noticiários, mas por simples salário pago pelo secreto coração do cidadão comum. Lamentavelmente, Russell Wayne Poole (1956-2015) não chegou a ver o fim dessa história, mas decerto não houve ninguém que tenha merecido mais o epíteto de mártir que ele. 

A obsessão de Poole não cai do azul. Já na introdução, o roteiro de Christian Contreras e Randall Sullivan põe Voletta Wallace, a mãe de B.I.G., num depoimento nada emocionado em imagens da época, reivindicando a prisão de quem quer que tenha matado seu filho, um homem de mais de 180 quilos dispostos em um metro e 87 de altura, que ela certamente via como um menino indefeso.

No vigésimo aniversário do crime, Jack Jackson revisita artigos de jornal e VTs de entrevistas com figurões do LAPD, o Departamento de Polícia de Los Angeles, até chegar ao investigador, sem saber que ele nunca mais pôde dormir sossegado por conta do mistério que insiste em rondar o episódio.

O frutífero encontro de Johnny Depp e Forest Whitaker garante passagens memoráveis, da mesma forma que o entrevero entre dois homens, um afro-americano e um branco, parados num sinal da Hollywood Boulevard, degringola numa perseguição que por seu turno acaba no tiroteio que mata o motorista preto. Usando de muita competência, o diretor saca um coelho da cartola, e apresenta os brigões como Frank Lyga e Kevin Gaines, dois agentes da polícia angelina, com Shea Whigham e Amin Joseph como uma versão cruenta e sem nenhum glacê retórico do duelo intelectual de Poole e Jackson.

O filme perde muito em insistir no cerebralismo da dupla Depp-Whitaker em detrimento de sequências feito a protagonizada por Whigham e Joseph; assim mesmo, “City of Lies” garante 112 minutos de bom entretenimento, sobretudo para quem não vê problema em fazer vista grossa para erros de continuidade. Um preciosismo, eu sei.


Filme: City of Lies
Direção: Brad Furman
Ano: 2018
Gêneros: Drama/Crime/Thriller/Policial 
Nota: 8/10

Fonte: R7 – Cinema

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