Custeados pelo Fundo Socioambiental do banco, projetos levam conhecimento sobre o uso sustentável do látex e agregam valor ao trabalho dos ribeirinhos que vivem no arquipélago
A Ilha do Marajó, localizada no estado do Pará, abriga inúmeras paisagens e habitantes repletos de histórias e sonhos. É o caso de Marizeli Freitas Mendes, de 43 anos, que vive na comunidade ribeirinha de Bom Jesus, em Anajás, município que compõe o arquipélago de difícil acesso, onde o principal meio de transporte é o barco. Convidada pela mãe, ela participou de uma iniciativa que chegou para começar a mudar a realidade dos ribeirinhos: um projeto que transforma a principal matéria-prima encontrada na região em arte e renda, valorizando o trabalho da população local. “A curiosidade foi grande e aceitei o desafio de participar para ver como seria possível transformar o látex em artesanato”, conta. O desafio aceito por Marizeli tem nome: “Encauchados de Vegetais da Amazônia”.
Marizeli Mendes confeccionando seus artesanatos
Dois projetos executados pelo Polo de Proteção da Biodiversidade e Uso Sustentável dos Recursos Naturais (Poloprobio) já receberam apoio financeiro do Fundo Socioambiental (FSA) da CAIXA. O primeiro veio em consequência do Prêmio Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) Brasil e teve início em 2015. Dois anos depois, o Poloprobio voltou ao local para realizar o segundo projeto, implantando unidades produtivas dos Encauchados de Vegetais da Amazônia para famílias de baixa renda e em estado de vulnerabilidade. O objetivo é assegurar a obtenção de uma renda familiar complementar, com inclusão e cidadania, sem interferir nos modos e estilos de vida da população nativa.
Banhada pela Baía do Marajó, pelos rios Amazonas e Pará e pelo Oceano Atlântico, a Ilha do Marajó é o maior arquipélago fluviomarítimo – cercado de mar e rios – do mundo. Apesar da vasta riqueza cultural e das belezas naturais exuberantes, a região concentra municípios com os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país. Justamente por isso, iniciativas que preservam o maior bioma brasileiro e valorizam os povos tradicionais que dão vida a Marajó merecem ser reconhecidas e apoiadas.
O vice-presidente de Sustentabilidade e Cidadania Digital da CAIXA, Paulo Rodrigo de Lemos Lopes, acredita que preservar a Amazônia é garantir a vida humana no Planeta. “Fixar os povos originários nas regiões onde nasceram é a forma mais inteligente de assegurar a integridade dos recursos naturais no Norte do País”, destaca. Já o diretor de Sustentabilidade e Cidadania Digital do banco, Jean Benevides, destaca que os brasileiros muitas vezes não têm noção do tamanho e diversidade do País. “O FSA CAIXA seleciona e apoia projetos que mostram a cara de um Brasil profundo, rico e diverso”, afirma.
Quando o projeto começou, Marizeli morava com a mãe, o padrasto e os três filhos, os quais sustentava com o salário mínimo que recebia da Prefeitura Municipal. Atualmente, ela é artesã, formou-se em Pedagogia e também trabalha como ‘multiplicadora do conhecimento’, replicando nas comunidades vizinhas os aprendizados que adquiriu nas oficinas dos projetos incentivados pelo FSA CAIXA. “Só o fato de morarmos no Marajó é um desafio muito grande. O arquipélago é imenso e temos dificuldades na logística de circular pelas comunidades, de ir para outro município… o custo é muito grande, mas a nossa vontade de vencer, de ajudar as pessoas e nos ajudar é maior ainda, muito maior mesmo”, se emociona.
O látex como matéria prima de belas artes
O projeto custeado pela CAIXA abriu portas para o desenvolvimento socioeconômico em Anajás (PA). Entre as iniciativas realizadas, uma designer de joias foi contratada para ensinar habitantes da região a confeccionarem acessórios a partir da matéria-prima encontrada em abundância em Marajó: o látex extraído das árvores seringueiras. O intuito foi agregar valor ao trabalho dos residentes da Ilha, visto que o agroextrativismo é uma das principais fontes de renda dessas pessoas, assim como capacitá-las para não serem mais exploradas.
Marizeli Mendes ao lado de uma árvore seringueira, de onde extrai o látex
É o que explica Francisco Samonek, fundador do Poloprobio. “Antes, o litro de látex era vendido por R$10,00. Hoje, esse mesmo litro que uma pessoa da cidade compra por R$10,00 está deixando dois, três mil reais na comunidade. Nós estamos fazendo com que as jovens obtenham uma renda de três a seis mil reais, dependendo do mix de produtos vendidos no mês”, explica. Samonek é pesquisador, educador, desenvolvedor de tecnologias sociais e grande defensor da Amazônia. Nascido no Paraná, estado do Sul do País, foi a região Norte do Brasil que ganhou seu coração, e é lá que ele atua há cerca de 40 anos.
Francisco Samonek em um dos projetos apoiados pela CAIXA
Os acessórios produzidos com materiais orgânicos disponíveis na natureza são chamados de “Biojoia”. Além das biojoias – colares, brincos, pulseiras, chaveiros –, utensílios de uso doméstico e decorativos, como centros de mesa, jogos americanos e descanso de panela, são fabricados a partir do látex. Marizeli não esconde a satisfação. “O artesanato faz muita diferença na vida da gente. Eu gosto muito de trabalhar como artesã e sou feliz por isso”, comemora. “E eu incentivo outras meninas também. Hoje, já temos um grupo maior de mulheres e de alguns homens que também fazem artesanatos. Isso não tem preço, sabe? As pessoas certas foram colocadas na nossa vida”, complementa.
Par de brincos produzido e comercializado por Marizeli
O pão de cada dia não falta mais
Outra beneficiada pelos projetos do Poloprobio foi a dona Maria do Desterro Cordeiro Lopes. Nascida e criada em Anajás, onde vive com os filhos, ela já enfrentou dificuldades e nem sempre tinha o que comer ou condição para comprar medicamentos. O trabalho desempenhado por Francisco Samonek e por sua equipe, por quem dona “Desterro” – como é conhecida – expressa enorme gratidão, colaborou para o aumento da renda de famílias como a dela, tornando mais viável a aquisição de bens antes inacessíveis para os ribeirinhos, como roupas, calçados, alimentação de qualidade e outros produtos de primeira necessidade.
Hoje, o dinheiro que ganha trabalhando ao lado do marido com a extração do látex e a melhor utilização do recurso natural permite que nada falte dentro de casa. “O projeto foi ótimo. Quando a gente fala ótimo, já sabe que é melhor que bom, né? Antes, eu não tinha as coisinhas na mesa, o meu leite, a minha manteiguinha. Tinha, mas não era aquilo tudo. Agora vivo muito feliz, isso é maravilhoso”, revela, emocionada.
Dona Maria do Desterro emocionada ao contar sua história
Materiais e utensílios foram fornecidos para as famílias envolvidas no projeto, que ainda foram habilitadas e certificadas como produtoras de borracha e látex orgânicos. Tudo isso colaborou para que os moradores da região deixassem de exercer a exploração predatória da floresta e de depender exclusivamente dos programas de auxílio do governo. Ou seja, os ribeirinhos ganham, a Amazônia ganha e o futuro do Planeta agradece.
O que era sonho virou realidade
Os moradores das comunidades ribeirinhas, como qualquer pessoa, sonham em fazer faculdade, ter um bom emprego, dar uma vida melhor aos filhos e aos pais depois de uma vida inteira de luta. Assim como Maria do Desterro, Marizeli Mendes tem conquistado algumas dessas coisas, o que garante ser a partir do projeto. “Eu sou muito grata, pois foi atrás do projeto que eu consegui fazer faculdade e outros cursos”, conta. O irmão dela também já cursou a graduação e os filhos estão no mesmo caminho. “O projeto nos fez enxergar que somos capazes de realizar nossos sonhos. Hoje, eu paro e penso: ‘Nossa, quanto talento eu tenho!’. Aos poucos, vamos descobrindo como reconstruir a nossa história a cada dia e vencer as dificuldades”, complementa a artesã.
Além de levar renda para várias famílias da região, os projetos renderam muitos aprendizados. Os ribeirinhos passaram a enxergar que era possível evoluir na comunidade sem precisarem se distanciar dela. Muitos jovens que antes pensavam em deixar o lugar onde nasceram e cresceram para buscar oportunidades, agora têm motivos para permanecer. “Só o fato de sabermos que ali nós éramos tão ricos, que a gente tinha um seringal tão grande… só não sabíamos como utilizá-lo. Essa renda foi essencial para mudar a nossa vida, trouxe conhecimento, melhorias para a nossa casa e para a educação”, garante Marizeli Mendes.
Francisco e os ribeirinhos em momento de descontração
Francisco Samonek acredita que não são necessários muitos recursos e muita “gente de fora” entrando nessas comunidades. Ele defende a teoria – inclusive, tese do seu doutorado – de que é melhor preparar pessoas da própria comunidade que estão habituadas com os costumes locais para ensinar os vizinhos do que levar um técnico da cidade até lá. Samonek ressalta que as dificuldades de comunicação, transporte e até mesmo as diferenças culturais são empecilhos para que isso ocorra, o que reforça a importância de capacitar quem já conhece e vive no ecossistema.
Marizeli e Maria do Desterro representam a garra de um povo e são protagonistas de uma mudança que, embora não pareça, impacta não só a vida dos beneficiados pelos projetos. Preservar a Amazônia e lembrar que existem pessoas que fazem isso diariamente é um dever de todos que “respiram” esse bioma. “Ter um projeto financiado pela CAIXA é maravilhoso. Alguém que olhe pela gente, que diga onde está o ribeirinho, pois muitas vezes nos sentimos esquecidos. Então, quando chega um projeto na comunidade, as pessoas abraçam e mudam a realidade. Quanto mais apoio tivermos, mais podemos crescer e ajudar outras pessoas a crescerem também”, conclui Marizeli.
CAIXA sempre presente
Além dos diversos projetos subsidiados pelo FSA CAIXA na região Norte do País, o banco está sempre em ação para reforçar o compromisso de atender os clientes e beneficiários de programas sociais nas localidades mais remotas e de difícil acesso, como é o caso das comunidades ribeirinhas.
Um exemplo disso são os atendimentos realizados pelas agências-barco da CAIXA – embarcações que prestam suporte à necessidade de atendimento bancário causada pelas dificuldades de acesso às regiões e diminuem os gastos de deslocamento da população até os centros urbanos. Uma delas, inclusive, leva o nome “Ilha do Marajó”. Clique aqui e confira o cronograma de setembro desta agência itinerante, a qual atende municípios do Pará, ou da Agência-Barco “Chico Mendes”, que percorre municípios amazonenses.
Fundo Socioambiental da CAIXA
Criado em 2010, o Fundo Socioambiental da CAIXA (FSA CAIXA) tem como objetivo apoiar projetos e investimentos de caráter social e ambiental que se enquadrem nos programas e ações da empresa e que sejam vinculados ao desenvolvimento sustentável para beneficiar, prioritariamente, a população de baixa renda.
Para 2023 e 2024, o FSA conta com o maior orçamento já disponibilizado: R$193 milhões para apoiar projetos. Diante da calamidade no Rio Grande do Sul, neste ano o banco destinou R$30 milhões do FSA CAIXA para recuperação de casas atingidas pelas enchentes. Saiba mais sobre o FSA no site da CAIXA.
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