O Brasil é hoje uma liderança não apenas na quantidade, mas também na qualidade do café, diz ao Café na Prensa Andrea Illy, presidente global da italiana Illycaffè, uma das mais tradicionais empresas do setor.
O país, historicamente o maior exportador de café do mundo, sempre foi visto como produtor de grãos commodity, de qualidade média a baixa, enquanto os cafés da Colômbia, América Central e África eram reconhecidos como os de qualidade mais alta.
Essa realidade tem mudado aos poucos. Uma das evidências disso é que um grão produzido no Cerrado Mineiro ganhou o troféu Best of the Best na oitava edição do Ernesto Illy International Coffee Award, descrito pela revista americana The New Yorker como uma espécie de “Copa do Mundo dos Cafés”. A premiação ocorreu na Biblioteca Pública de Nova York em novembro do ano passado.
A analogia da publicação americana se deve mais ao formato da competição do que à importância dela, já que há concursos com maior abrangência, como o Cup of Excellence. No Ernesto Illy International Awards, um painel composto por especialistas analisa às cegas nove cafés que representam os nove países finalistas. Neste ano, disputaram a final Brasil, Costa Rica, El Salvador, Etiópia, Guatemala, Honduras, Índia, Nicarágua e Ruanda.
“Hoje, é simbólico que o Brasil tenha sido capaz de ganhar o prêmio Ernesto Illy, que é o mais sofisticado prêmio que se pode encontrar no mercado. Significa que o Brasil foi capaz de se tornar um produtor líder de quantidade e também um líder de qualidade”, diz.
Andrea destaca o trabalho feito pela própria Illy nesse movimento de melhoria do café no Brasil. De fato, a empresa teve papel importante no início da gourmetização da cafeicultura brasileira, ao organizar um prêmio para reconhecer os produtores de grãos que alcançassem determinados padrões de qualidade sensorial.
A iniciativa fez com que vários agricultores passassem a ter mais cuidado no manejo e no pós-colheita. O projeto tornou-se um dos precursores dos vários prêmios que foram posteriormente implementados pelo país.
Ele recorda que, quando a Illy começou a adquirir os cafés brasileiros por meio de compra direta, mais de 30 anos atrás, o país ainda era referência apenas no chamado café commodity. “Tudo era misturado e não tinha rastreabilidade, diferenciação”, diz.
Questionado sobre o café brasileiro vencedor do Best of the Best, Andrea diz que achou-o incrivelmente aromático e compara-o aos grandes cafés centro-americanos e africanos.
“Tem uma acidez que é equilibrada, mas muito delicada. Não tem defeito de forma alguma, isso é muito, muito importante”, diz. E arremata: “É muito delicado o aroma do café. Parece um ótimo café da Etiópia, da Guatemala, da Colômbia”.
Por isso, diz, foi “com grande surpresa” e “com grande felicidade de todos” que o grão brasileiro tenha sido coroado o Best of the Best.
Procurada pelo Café na Prensa, a Guima, empresa que produz o grão vencedor em Varjão de Minas, no Cerrado Mineiro, informou que o lote campeão será lançado em breve para o consumidor final em uma edição exclusiva.
RAIO X
Andrea Illy, 59
Andrea Illy nasceu em 2 de setembro de 1964 em Trieste, filho de Ernesto e neto de Francesco, fundador da Illy. Formou-se em química pela Universidade de Trieste. Em 1990, ingressou na illycaffè como supervisor do departamento de controle de qualidade. Em 1994 foi nomeado CEO da illycaffè S.p.A. e ocupou esse cargo até 2016. É presidente da empresa desde 2005.
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