A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) informou ao R7 na noite deste sábado (27) que a Polícia Federal não tinha mandado judicial para executar uma ação específica na quinta-feira (25). Por isso, a área jurídica da agência recomendou que a atividade não fosse autorizada até a chegada do novo documento. A reação da Abin é tratada pela PF como tentativa de obstrução dos trabalhos dos agentes federais.
Questionada pelo R7, a Abin não detalhou qual seria a ação específica sem ordem expressa, mas, segundo a agência, os demais trabalhos autorizados pelo documento inicial foram executados sem interferências.
Na quinta-feira (25), a segunda fase de uma operação da PF fez buscas na sede do órgão e em endereços ligados ao agora deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que esteve à frente da agência de inteligência no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Sob a gestão dele, teria existido uma “Abin paralela”, responsável por espionar ilegalmente adversários políticos.
Segundo a PF, os policiais teriam sido questionados a respeito do tamanho dos mandados de busca e apreensão e foram impedidos de acessar todos os documentos necessários. A intrusão teria levado os agentes a entrar em contato com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, relator do caso, para um novo despacho.
No total, a PF cumpriu, na quinta (25), 21 mandados de busca e apreensão em endereços ligados a suspeitos de aparelhar a Abin para espionar ilegalmente opositores do governo Bolsonaro. Segundo a investigação, durante o período em que Ramagem comandou a Abin, servidores usaram indevidamente um sistema israelense de espionagem chamado “FirstMile”. O software é capaz de detectar um indivíduo com base na localização de aparelhos que usam as redes 2G, 3G e 4G.
Em outubro do ano passado, durante a primeira fase da operação, a PF identificou que o FirstMile foi utilizado pela Abin em 33 mil monitoramentos ilegais. Dos usos, 1.800 foram destinados à espionagem de políticos, jornalistas, advogados, ministros do STF e adversários do governo do ex-presidente.
Outro alvo da PF foi Carlos Afonso Gonçalves Gomes Coelho que na Abin de Ramagem foi secretário de Planejamento e Gestão e chefe de Inteligência. Em outubro, ele foi nomeado pelo secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, ao cargo de coordenador da Diretoria-Executiva da Polícia Federal (PF). Nessa sexta-feira (26), porém, ele foi exonerado da pasta.
“O grupo criminoso criou uma estrutura paralela na Abin e utilizou ferramentas e serviços daquela agência de inteligência do Estado para ações ilícitas, produzindo informações para uso político e midiático, para a obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal”, diz um comunicado da PF.