(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 24 de janeiro de 2024)
A esquerda brasileira, logo atrás da mundial, resolveu aderir de forma quase oficial ao antissemitismo; só falta, agora, o manifesto assinado. Não se trata de “antissionismo”, como ainda dizem, nem de uma postura anti-Israel, ou de declarações de apoio ao que chamam de “causa palestina”. É racismo mesmo. Vendo as manifestações antissemitas fazerem sucesso cada vez maior nas universidades norte-americanas e nas ruas da Europa, as lideranças da esquerda nacional se sentiram autorizadas a botar para fora os seus instintos mais primitivos de ódio aos judeus. É o que acaba de fazer o ex-presidente do PT, José Genoino, tido como membro permanente no panteão dos grandes vultos da luta de classes no Brasil.
Numa entrevista nas redes sociais Genoino disse que achava interessante fazer boicote contra “determinadas empresas de judeus”. É xeque-mate — por mais boa vontade que se tenha, não dá para achar que isso é outra coisa que não seja racismo. Genoino não disse, por exemplo, empresas “de armamentos”, ou empresas “de produtos químicos”, ou empresas “que agridem o meio ambiente”. Disse, com todas as palavras, empresas “de judeus”. Esse “de judeus” mata a charada. Não é uma definição política, nem econômica, nem ideológica — é puramente racial. O ex-deputado tentou, depois, voltar atrás. Disse, após dizer o que tinha dito, que o seu boicote seria contra empresas “ligadas ao Estado de Israel”. Mas aí já era tarde; não dava mais para enfiar “a pasta de dente de volta no dentifrício”, como dizia Dilma Rousseff.
O ex-presidente do PT poderia informar quais seriam, exatamente, as empresas que ele condena ao boicote? Se são essas, por que não são aquelas? São empresas que atendem o consumidor brasileiro? É uma sinuca de bico. Na verdade, o mais prudente para o PT seria não falar mais nada sobre este caso — e esperar que o esquecimento acabe empurrando tudo para o arquivo morto. Quanto mais tentam dizer que não foi antissemitismo, mais óbvios aparecem os seus preconceitos. A não ser, naturalmente, que façam questão de revelar-se mesmo antissemitas. Por que não? Colocar-se, como se colocam, a favor de uma entidade terrorista cujo programa prega a eliminação física da população de Israel, é ficar muito próximo do culto ao racismo — e ao genocídio de um povo.
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Genoino, como se dizia antigamente no turfe, “confirmou o apronto”. Não fez muito mais, ou diferente, do que têm feito os potentados da esquerda e do “campo progressista”. O presidente Lula é um dos mais agitados nesta área. Desde o ataque terrorista que matou 1,2 mil inocentes em Israel e provocou o conflito atual na região, Lula mal se contém no seu impulso de entrar na guerra do lado “palestino” — na segurança de Brasília, é claro. Seu último espasmo foi apoiar uma acusação de “genocídio” contra Israel que só agravou ainda mais o crescente isolamento do Brasil entre os países democráticos. A presidente do PT, em declarações repetidas, insiste em ficar a milímetros do racismo contra os judeus. Uma organização sindical chapa-branca diz que “85 jornalistas” foram “assassinados” por Israel na Faixa de Gaza; sua “fonte” é o Hamas. A coisa vai por aí afora.
A “crítica a Israel” e a “defesa do povo palestino” são as melhores desculpas para o antissemitismo que já apareceram desde a Alemanha de Hitler. O ódio racial antijudeu é sempre latente na esquerda. Agora, como comprova o ex-presidente do PT, está vindo para fora num volume cada vez mais agressivo.
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