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quinta-feira, novembro 14, 2024

Comédia romântica com Adam Sandler e Jennifer Aniston na Netflix vai melhorar seu dia instantaneamente

Talvez não exista um assunto que frequente mais a cabeça de roteiristas e diretores de cinema do que a ilusão da eterna juventude, ainda que tomada sob perspectivas diversas, independentemente do período que se queira.

No caso de “Esposa de Mentirinha”, Dennis Dugan reedita a puerilidade dos homens — dia a dia menos evidente, mas ainda invencível — a fim de discorrer sobre amor, casamentos de fachada, sexo, solidão, sororidade, sucesso, e tudo quanto caiba no amplo balaio dramatúrgico inaugurado pela adaptação perspicaz de Abe Burrows (1910-1985) para a farsa “Fleur de Cactus” (1964), dos franceses Pierre Barillet (1923-2019) e Jean-Pierre Gredy (1920-2022), cuja estreia na Broadway se deu em 8 de dezembro de 1965.

O espetáculo foi tão bem-aceito pelo público que o trabalho de Barillet e Gredy acabou vertido para o cinema por I.A.L. Diamond (1920-1988) em “Flor de Cacto” (1969), dirigido por Gene Saks (1921-2015), com Walter Matthau (1920-2000), Ingrid Bergman (1915-1982) e Goldie Hawn nos papéis centrais. E decerto este é seu maior problema.

O texto resta tão lasso que fica difícil saber onde começa o filme de Dugan. O roteiro, aqui sob a batuta de Allan Loeb e Timothy Dowling, tem o poder de, espertamente, aproveitar tópicos da atualidade para que “Esposa de Mentirinha” faça sentido. Retrocedendo duas décadas e meia, Veruca, uma jovem como outra qualquer, se fecha com as amigas minutos antes do casamento.

Em 1988, já havia, por óbvio, garotas que se casam por conveniência (ou interesse, tanto faz), em Long Island ou em Catolé do Rocha, mas a personagem, uma ponta razoável de Jackie Sandler — e o sobrenome não é nenhuma coincidência —, se excede. Sem dúvida, esta é a melhor sequência do filme, momento em que Dugan, realizador de besteiróis hilários e algo reflexivos a exemplo de “Gente Grande” (2010) e “Eu os Declaro Marido e… Larry!” (2007) — que por seu turno têm muitas interseções com “Quanto mais Quente Melhor” (1959), de Billy Wilder (1906-2002) — e a parte do elenco anônima e despretensiosa estão mais à vontade.

É quando a tessitura do que Loeb e Dowling propõem tem razão de ser, admitindo sua essência pastelão, que começa a se tornar mais pronunciada a dada altura da trama, em cenas deliciosamente tolas, como convém a uma produção dessa natureza. Já nesse fragmento, assoma a grande pirueta dramática do filme, que dá azo a todo o resto, com Adam Sandler encarnando Danny Maccabee, um noivo justificadamente traumatizado com o que ouve da boca de Veruca, e ostentando uma prótese nasal maior que ele. Há milhões de outros jeitos de Sandler e o diretor transmitirem a mensagem que desejam; contudo, a insistência nas mesmas velhas piadas anatômicas de judeus e o estereótipo do bom moço que só na undécima hora percebe que é usado — e traído por gente que julgava amiga — não tarda a maçar. Portanto, o melhor a se fazer é mesmo ter um pouco mais de paciência e esperar pelo segundo ato.

A história torna a avançar os 25 anos, tempo o bastante para que Danny mostre que aprendeu umas boas lições. A primeira foi abandonar a carreira de cardiologista e migrar para a cirurgia plástica, que o obrigou, claro, a submeter-se a uma rinoplastia severa, mas abriu-lhe as portas dos corações — este filme é, voluntariamente ou não, um apanhado de lugares-comuns e reducionismos, não nos esqueçamos.

Dugan consegue distorcer um tanto essa impressão valendo-se diálogos que, de quando em quando, põem de lado as gracinhas fáceis e elaboram o discurso da suposta preferência de algumas mulheres por sujeitos menos vigorosos, e antes que a tônica volte a ser as blagues constrangedoras de senhoras de meia-idade vitimadas por carniceiros, Palmer Dodge, a ninfa de Brooklyn Decker, alcança a proeza de aplacar o donjuanismo profissional de Danny. Mas ela não contava com uma rival cuja força a ameaça, até porque nem poderia suspeitar de sua existência.

O ardil do personagem de Sandler e da assistente Katherine Murphy, vivida por Jennifer Aniston, para não deixar que Palmer escape, tem seus lances de genuína comédia, e é mesmo a química que Aniston compõe com o parceiro o grande trunfo do longa. Sequências nonsense, até perigosas, como a da excursão a uma reserva florestal, quando o núcleo adulto junta-se a Maggie e Michael, os filhos de Katherine interpretados por Bailee Madison e Griffin Gluck, ficam espantosamente leves com a simples presença de Aniston em quadro.

E tudo melhora de maneira substancial com a participação de Nicole Kidman como Devlin, um antigo desafeto de Katherine que aparece com o marido, Ian, de Dave Matthews. O concurso de dança havaiana de que os quatro participam recoloca o filme nos eixos, mas o encerramento, casado com o previsível, tira muito das cores de “Esposa de Mentirinha” — malgrado a fotografia de Theo van de Sande nos estimule até que a história, enfim, feche seu curso.


Filme: Esposa de Mentirinha 
Direção: Dennis Dugan
Ano: 2011
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 7/10

Fonte: R7 – Entretenimento

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