As buscas pelos dois detentos que fugiram da penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, chegam ao sétimo dia nesta terça-feira (20). Deibson Cabral Nascimento e Rogerio da Silva Mendonça — suspeitos de terem ligações com a facção criminosa Comando Vermelho, no Acre — conseguiram escapar na madrugada da última quarta (14).
Eles são os primeiros detentos da história a fugir de uma prisão de segurança máxima do sistema prisional federal. A unidade em Mossoró abriga 68 detentos, sendo o segundo menor quantitativo de uma penitenciária federal, atrás apenas da de Brasília (DF).
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandoswski, chegou ao Rio Grande do Norte na manhã do último domingo (18) para acompanhar as buscas. Ele foi acompanhado do diretor-geral da Polícia Federal em exercício, Gustavo Souza, e foi recebido pela governadora do estado, Fátima Bezerra, e pelo secretário Nacional de Polícias Penais, André Garcia, que está na região desde a data da fuga.
Lewandoswski afirmou que o episódio de fuga de dois detentos da prisão de segurança de Mossoró (RN) “não afeta, em hipótese nenhuma, a segurança das cinco unidades prisionais federais”. O ministro, porém, admitiu que “é um problema localizado e será superado em breve com a colaboração de todos”.
“O Brasil é um país que está unido no diálogo federativo, cultivando as relações republicanas e o diálogo democrático”, disse Lewandoswski, pouco antes de acrescentar que a situação será “superada em breve”.
Ainda de acordo com o ministro, 500 agentes atuam por dia nas buscas pelos dois fugitivos. As equipes estão divididas em dois turnos, com 250 pessoas atuando durante o dia e 250 no período noturno.
Lewandowski disse que as buscas ocorrem em um cenário desfavorável. “O terreno é difícil e as condições são desfavoráveis. Acabamos de ter uma chuva torrencial que dificulta as buscas, inclusive, de identificar os rastros de presos”, disse. Ele acrescentou que os drones de calor têm dificuldade de identificar sinais se os presos estiverem escondidos em grutas e cavernas, por exemplo.
O ministro disse que as possíveis falhas das prisões federais estão sendo corrigidas e que a unidade de Mossoró “voltou a ser absolutamente segura e apta para custodiar os detentos”. Afirmou também que a pasta vai iniciar a construção de muros mais altos em Mossoró e que as demais medidas, como reconhecimento fácil, sensores de presença e contratação de mais policiais penais federais, estão sendo providenciadas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse no domingo (18), que a fuga pode ter ocorrido com “relaxamento” de servidores e que o governo precisar saber de quem.
Lula: ‘Cavaram um buraco e ninguém viu’
“Queremos saber como estes cidadãos cavaram um buraco e ninguém viu”, disse o presidente, que acrescentou que Lewandowski foi a “primeira pessoa” a afirmar que seria feita uma sindicância para apurar a possível participação de funcionário do presídio.
A declaração de Lula durante uma entrevista após participar da 37ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana, em Adis Adeba, capital etíope. No mesmo dia, a Federação Nacional dos Policiais Penais Federais (Fenappf) divulgou uma nota de repúdio às acusações de corrupção de agentes da categoria e aponta que os dois presos que fugiram da penitenciária não tiveram apoio externo.
Sem citar nomes, o texto diz que o policial penal federal está sendo lembrado “somente no momento em que ocorreu uma falha” e que “está sendo acusado direta ou indiretamente de corrupção por algumas pessoas públicas e formadores de opinião de forma totalmente irresponsável”.
Assinada pelo presidente da Fenappf, Gentil Nei Espírito do Santo da Silva, a nota afirma ser muito cedo para se chegar a esse tipo de conclusão, pois “as investigações ainda estão em curso”.
Reféns
Na última sexta (16), os presos chegaram a fazer uma família refém a cerca de 15km da prisão. Segundo fontes da RECORD, os criminosos teriam invadido uma casa, onde ficaram por cerca de quatro horas, pediram comida e roubaram um celular. Em seguida, teriam deixado o local.
A penitenciária de Mossoró tem quatro agentes de execução penal para cada preso, em média. Os dados, que são do Painel Estatístico de Pessoal do governo federal e da Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais), foram coletados pelo R7.
Pelos números oficiais, o país tem 1.493 servidores do tipo ativos, dos quais 249 (16,7%) estão lotados em Mossoró.
Quem são os fugitivos?
Os dois homens que fugiram nesta quarta foram identificados como Deibson Cabral Nascimento e Rogerio da Silva Mendonça. Ambos são suspeitos de terem ligações com a facção criminosa CV (Comando Vermelho). O grupo domina as operações criminosas no Acre, onde a dupla estava presa até setembro do ano passado.
No caso de Deibson, há uma longa ficha criminal que começou ainda na adolescência e seguiu durante a vida adulta. Os registros incluem crimes que vão de tráfico de drogas a latrocínio, chegando a uma rebelião em uma cadeia do Acre. A defesa dele não foi localizada para comentários.