O presidente Luiz Inácio Lula da Silva exonerou nesta terça-feira (30) o número dois da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Alessandro Moretti. A dispensa do cargo de diretor-adjunto da instituição foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União. O movimento ocorre depois de um novo desdobramento da Operação Última Milha, a Operação Vigilância Aproximada, que investiga um suposto esquema de espionagem ilegal envolvendo, entre outras pessoas, o ex-diretor-geral da agência Alexandre Ramagem e o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro.
Moretti, que também é delegado de carreira da PF, foi diretor de Informação e Inovação da corporação no governo de Jair Bolsonaro. No entanto, Lula decidiu manter o delegado da Polícia Federal Luiz Fernando Corrêa no comando da agência.
Como número dois da agência, deve entrar Marco Aurélio Cepik, professor universitário. Ele não é servidor de carreira da Abin e atua como diretor da Escola de Inteligência, responsável pela formação e capacitação dos agentes da instituição. A nomeação deve sair nos próximos dias.
A operação
A Polícia Federal realizou nessa segunda (29) uma operação para investigar o monitoramento ilegal realizado pela Abin durante o governo Bolsonaro. O principal alvo foi o filho do ex-presidente e vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro.
Nove endereços, incluindo a casa e o gabinete do parlamentar na Câmara Municipal, foram alvos das buscas e apreensões. A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
A nova operação tem como foco descobrir os possíveis destinatários das informações supostamente obtidas ilegalmente pelo grupo, que monitorava jornalistas, advogados e autoridades brasileiras — entre elas, os ministros do STF Gilmar Mendes e o próprio Moraes.
Na última quinta (25), o deputado federal e ex-diretor-geral da agência Alexandre Ramagem (PL-RJ) também foi alvo de busca e apreensão. O gabinete do parlamentar na Câmara dos Deputados foi um dos endereços visitados pelos agentes.
Relembre o caso
Em 2023, a PF descobriu indícios do uso de ferramentas de espionagem ilegal, como a First Mile, por servidores da Abin — entre elas, um programa de invasão de computadores que permitia acesso a todo o conteúdo privado dos alvos. Os softwares foram encontrados nos equipamentos apreendidos durante as buscas.
A suspeita é de que os investigados usavam técnicas que só são permitidas mediante prévia autorização judicial.
A PF revelou que um sistema de geolocalização para dispositivos móveis, como celulares e tablets, teria sido usado em monitoramentos ilegais por servidores mais de 60 mil vezes em dois anos e meio. Entre os alvos da espionagem irregular estariam ministros do Supremo Tribunal Federal, jornalistas, políticos e adversários do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na época, a PF também cumpriu 25 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, em São Paulo, em Santa Catarina, no Paraná e em Goiás. Os agentes encontraram US$ 171 mil em espécie na casa de um dos suspeitos, em Brasília. O ministro do STF Alexandre de Moraes determinou o afastamento de pelo menos cinco funcionários da Abin.
Os agentes apreenderam celulares e notebooks no apartamento funcional do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). O R7 apurou que um notebook e um celular ainda pertencem à Abin.
A apuração aponta indícios de que Ramagem continuou recebendo informações de dentro da Abin mesmo após deixar o comando do órgão.