Em um show de Jorge Ben Jor você deve estar preparado para tudo. O alquimista da música brasileira estará no domingo (04/02) para uma apresentação no pré-carnaval do P12, em Floripa. Se for pelo repertório você até pode se iludir de que “não haverá novidades”.
Um dos mais enigmáticos e geniosos artistas brasileiros, saber qual “Jorge” estará no palco a cada apresentação é um dos tantos enigmas que alimentam a sua gloriosa carreira/vida.
Informações sobre o show e ingressos aqui.
Eu já vi shows antológicos, com invasão de palco, apoteose e tal, como também já o vi bolado e impaciente ao ponto de chutar equipamentos e levar a apresentação até o fim na força do ódio. Teve até Jorge Ben Jor chorando – o que é mais raro ainda, mas já aconteceu em Florianópolis.
Alguns vão lembrar do show dele no Music Wave Week, em 2014, no Point do Riozinho, no Campeche. Foi numa tarde de 8 de fevereiro daquele ano, portanto, há exatamente uma década comparando com o próximo domingo, 4 de fevereiro.
Showzaço, a máquina de swing a toda debulhando hits (“Jorge da Capadócia”, “Os Alquimistas Estão Chegando”, “Alcohol”, “Magnólia”, “Fiu Maravilha”, “Do Leme ao Pontal”), mas sem nenhuma surpresa até que da plateia veio o pedido por “O Homem da Gravata Florida”.
Uma das principais canções de “Tábua de Esmeralda”, clássico que inaugurou a chamada fase da “alquimia musical” de Jorge Ben e que naquele ano completava 40 anos de lançamento.
Entre eufórico e surpreso, Jorge agradeceu a sugestão e lembrou que havia muito tempo que não tocava aquela canção. E se pôs a chorar.
“O Homem da Gravata Florida” ao qual a música se refere é o médico suíço, filósofo renascentista e grande mestre da alquimia Paracelso (século XIV).
Ben Jor nunca escondeu seu entusiasmo pelos estudos da alquimia. O próprio título do álbum deixa isso muito escancarado assim como suas poesias – muitas vezes indecifráveis.
Tenho comigo que há muitos sinais convergindo para o próximo domingo: são quase 10 anos daquela emocionante apresentação no Riozinho e, novamente, entramos em uma efeméride comemorativa dos 50 anos do místico “A Tábua de Esmeralda”.
“Porque com aquela gravata
Ele é esperado, é bem chegado
É adorado em qualquer lugar
Por onde ele passa, nascem flores e amores”
(Trecho de “O Homem da Gravata Florida)
Em 1975, Jorge Ben chorou por “Dumingaz”!
Em 1970, Jorge Ben também surpreendeu o público ao chorar durante uma apresentação. O episódio é narrado no livro “África Brasil – Um dia Jorge Bem voou para toda a gente ver”, da jornalista Kamille Viola – que eu recomendo muito a vocês (link aqui).
Jorge Ben recém tinha sido apresentado ao público europeu, sendo visto como uma sensação. Ele estava em Cannes, na França, para se apresentar no MIDEM, um encontro internacional de profissionais da área da música. Foi quando, em dado momento, ele começou a tocar “Dumingaz” e veio aos prantos.
A personagem da música é Domingas Teresinha Inalmo de Menezes, com quem viveu por mais de 50 anos. Se conheceram no final da década de 1960, se casaram e seguiram juntos até o final do ano passado, quando se divorciaram.
Domingas foi empresária de Jorge e também musa em pelo menos outras duas canções: “Cadê Tereza” e “País Tropical” (“tenho uma nega chamada Tereza”.
Jorge é aquele que molda o seu tempo e o seu momento. Nada é por acaso quando ele está no palco.
A saber, melhor sempre saudar “Salve, Os Jorges!”