Colaboração: Antonio Carlos Mello Cesar
Lá nos anos 90, sábado pela manhã, a TV no barzinho da esquina transmitia um jogo de tênis, Guga estava no auge e uma pequena plateia em torno do aparelho acompanhava à partida. Eram pessoas, e eu as conhecia bem, que nunca na vida assistiram qualquer torneio de tênis, no entanto reagiam como alvoroçados espertes da modalidade.
Hoje o fato me faz lembrar como é importante um brasileiro na F1, e não precisa ser nenhum gênio, basta ser competente tipo Rubinho e Massa, porém caso apareça outro Senna, melhor ainda.
Após este breve preâmbulo quero voltar para 2003. Temporada interessante, Cristiano da Matta campeão da F Indy (2002) com motor Toyota, foi levado para F1 pela montadora japonesa disposta a investir milhões de dólares e obter sucesso na categoria.
Antonio Pizzonia de ótimos resultados nas categorias de base debutava na F1, talvez lograsse desempenho significativo na Jaguar a ponto de conseguir vaga numa equipe vencedora. Quem sabe Rubens Barrichello iria impor dificuldades para Schumacher e finalmente brigar pelo título.
Na época Michael e Ferrari eram absolutos. A temporada começou e nada diferente, Schumacher continuava vencendo e coisa nenhuma do Rubinho, a equipe Toyota sem dar mostras de eficiência, Antonio Pizzonia se consolidava como falsa promessa. Dessa forma chegamos ao GP da Inglaterra.
Durante os treinos livres da sexta-feira Michael Schumacher é flagrado as gargalhadas acompanhando pelo monitor uma rodada do Barrichello que foi parar fora da pista. Sábado na classificação Rubens marca a pole, o alemão consegue apenas o quinto lugar sem as risadas do dia anterior. Procurado pela imprensa o brasileiro limita-se a dizer: Nada como um dia após o outro.
Cristiano da Matta, espetacular, coloca o fraco Toyota na sexta posição à frente de Juan Pablo Montoya em P7 e Fernando Alonso P8. E num arroubo de capacitação Pizzonia acomoda seu Jaguar entre os dez primeiros (P10).
Na largada Rubens perde posições para Trulli com Renault e Raikkonen de McLaren, durante a sexta volta o safety car entra na pista, a equipe Toyota antecipa a troca de pneus e adiciona mais combustível. Giro 12 um maluco de saia escocesa invade a pista carregando a seguinte mensagem: “Leiam a Bíblia”. Safety car acionado e todos recorrem aos boxes menos os pilotos da Toyota e David Coulthard.
A prova recomeça e Cristiano está no primeiro lugar, seu companheiro Olivier Panis P2, David Coulthard em P3 e os três que não pararam Trulli P4, Kimi Raikkonen P5. Barrichello cai para oitavo e Schumacher décimo quinto.
Kimi supera os pilotos a sua frente e gruda no brasileiro. A McLaren é poderosa, vencera as duas primeiras provas da temporada Austrália e Malásia, porém da Matta não é campeão da F Indy por acaso, mesmo com equipamento inferior, novato na categoria, sabe tudo de pista.
Principia um duelo memorável. Raikkonen alucinado tenta de tudo, volta atrás de volta entra no vácuo, sai do vácuo, coloca de lado, mas Cristiano fecha a porta, suporta pressão e mantém a ponta. Volta 32 o brasileiro é chamado para os boxes depois de liderar 17 voltas, 14 delas brigando contra a McLaren.
Giro 33… Rubens agora em P2 está 11 segundos atrás do líder. Adota um ritmo ousado fazendo sucessivas melhores voltas até ultrapassar Kimi (volta 45) e seguir rumo à vitória. Bravo Rubinho!
Depois da prova Ove Anderson chefe da Toyota falava da emoção de ver um de seus carros liderando a corrida e Tadashi Yamashina, diretor, se mostrava encantado com o brasileiro: “Ele também nos deu a primeira vitória na F Indy”.
Cristiano lamentava o sétimo lugar alegando que o carro perdeu muito rendimento depois das paradas: “Sinceramente esperava terminar abaixo da sexta posição”.
Ao final daquele ano a Ferrari anunciava extensão do vínculo com Barrichello por mais duas temporadas (2004/05). Felipe Massa também apoiado pela Casa de Maranello iria correr na Sauber em 2004. Bons tempos quando brasileiros brilhavam na F1.
Antonio Carlos Mello Cesar
São Paulo – SP
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