Thrillers investigativos, embora cheios de clichês, sempre proporcionam momentos interessantes e divertidos enquanto tentamos solucionar enigmas que quase sempre parecem muito óbvios. E é claro que “Mindcage” se beneficia com isso, mas de uma maneira um pouco boba e fútil. A premissa é ótima, até porque é copiada de “Silêncio dos Inocentes”.
Uma detetive em busca de um assassino em série precisa recorrer a outro assassino em série para ajudá-la a solucionar um mistério. Mary (Melissa Roxburgh), é uma investigadora da polícia que pega um caso sinuoso e um tanto instigante. Um assassino misógino persegue prostitutas, as mata e as transforma em anjos. A cena do crime é sempre muito bem elaborada e artística, mas, principalmente, são copiadas de um antigo serial killer, intitulado de Artista (John Malkovich), que montava cenários similares, deixando ao lado dos corpos de suas vítimas um objeto pessoal delas para que as acompanhasse até o mundo dos mortos. Segundo o assassino, uma antiga prática funerária.
Com uma legião de fãs que acompanharam seu trabalho e lhe enviam cartas entusiasmadas, o imitador de O Artista pode ser qualquer pessoa. No entanto, objetos que têm conexão com as investigações ao assassino original são encontrados nos corpos das vítimas.
Mary é uma mulher durona e determinada. Talvez tanto que não se deixa ser pessoalmente afetada pelo caso. Não há nenhuma compaixão pelas vítimas, angústia pessoal, problemas de autoconfiança, moralidade ou questionamentos sobre a natureza filosófica de seu trabalho. Mas isso é mesmo necessário? Sim, porque nós, humanos, somos naturalmente questionadores, insatisfeitos, sedentos por respostas que estão fora de alcance. Simplesmente ignorar esse aspecto inerente à humanidade é negar se aprofundar no que realmente importa.
O filme perde o peso intelectual quando deixa de abordar questões mais relevantes. É como se a protagonista fosse plana, sem emoções. Nunca conhecemos suas fraquezas, apenas suas virtudes. Nenhum ser humano é assim. Por outro lado, seu parceiro, Jake (Martin Lawrence), é seu contraponto. É um homem atormentado pelo caso do O Artista, traumatizado pelo ofício e que retorna para seu lugar de terror. Apesar de Martin Lawrence ser um excelente ator, a escrita do personagem é tão forçada que o impede de traduzir a tortura da alma de Jake.
Já Malkovich, que também é um excelente ator, mas que sempre deixa dúvidas sobre se seu papel é sério ou dramático (ele sempre paira sobre a linha tênue entre os dois), aqui deixa parecer que seu papel é mais uma sátira do que sério. A raiz de todos os problemas é, na verdade, o texto do filme. Mesmo assim, “Mindcage” não é de todo ruim. Pelo contrário, serve para entreter, não é cansativo e nem óbvio demais. Tem seus problemas, mas entrega o básico: diversão.
Filme: Mindcage
Direção: Mauro Borrelli
Ano: 2022
Gênero: Drama/Suspense/Policial
Nota: 8/10