
São Paulo, Brasil
“O Palmeiras não tem Mundial.
“Não tem Copinha, não tem Mundial.”
Com o microfone, Gabigol puxou a provocação, assim que o Flamengo se sagrou bicampeão da Libertadores da América, ao vencer de virada o River Plate, no Peru, por 2 a 1. O autor dos dois gols, cantou, riu muito. Se esbaldou, às custas do clube paulista, naquela noite de 23 de novembro de 2019.
Copinha é a Copa São Paulo de Futebol Juniores.
Na carreata, no Rio de Janeiro, em cima de um trio elétrico, Gabigol voltou à mesma provocação.
“O Palmeiras não tem Mundial.
“Não tem Copinha, não tem Mundial.”
Na vitória rubro-negra, em Brasília, no dia 12 de abril deste ano, na conquista da Supercopa do Brasil, em cima do próprio Palmeiras, Gabigol voltou cantar o mesmo refrão.
“O Palmeiras não tem Mundial.
“Não tem Copinha, não tem Mundial.”
Poucos se lembram, no entanto, que a provocação começou discreta, com o Palmeiras. Enquanto o time vencia o Internacional, no noite de 17 de maio de 2017, no Allianz Parque, o sistema de som decidiu anunciar a eliminação do Flamengo da Libertadores. De uma maneira inusitada.
“Cheirinho no ar! San Lorenzo 2, Flamengo 1.”
Pura ironia em relação à música criada pela torcida rubro-negra,”Cheirinho do Hepta”, para resumir a disputa com o Palmeiras pelo título brasileiro de 2017. No final, o Corinthians acabou campeão.
E a provocação já começou para a final da Libertadores entre os dois clubes, no Uruguai, dia 27 de novembro.
“Se o Palmeiras é o atual campeão, ele é o favorito para a final. O Flamengo tem que chegar e tentar superar. O favoritismo é todo do Palmeiras porque ele é o atual campeão da Libertadores”, afirmou, irônico, o vice de futebol do Flamengo, Marcos Braz.
A guerra fria já começou.
Tanto Abel Ferreira quanto Renato Gaúcho são especialistas em inteligência emocional. E como o futebol brasileiro despreza a psicologia esportiva, os dois treinadores assumem a função de trabalhar psicologicamente seus atletas.
E o que mais motiva são as provocações alheias.
Os dois clubes estão fazendo esse discreto levantamento das provocações alheias.
A rivalidade entre os dois clubes tem origem na questão básica.
Disputa de títulos.
Em 2018, o Palmeiras foi campeão brasileiro, com o Flamengo como vice. Em 2019, o Flamengo ganhou, com o clube paulista em segundo. Em 2020, o Flamengo foi campeão outra vez, o Palmeiras acabou em sétimo.
O Palmeiras é o atual campeão da Copa do Brasil.
Mas está na Libertadores, a maior disputa. A luta pela hegemonia do continente sul-americano.
Em 2019, o Flamengo venceu. No ano passado, o Palmeiras.
A rivalidade chegou às diretorias, que têm divergido sobre várias questões.
Entre elas, a da pandemia.
Enquanto o Flamengo forçou a volta do futebol e do público, o Palmeiras foi radicalmente contra. E se enfrentaram com muita disposição nos bastidores. Inclusive quando o Flamengo teve um grande surto de Covid, em setembro de 2020. Ficou sem 12 atletas infectados. Pediu o adiamento do jogo com o Palmeiras, mas o clube paulista negou.
A diretoria flamenguista ficou revoltada, mas com apenas quatro titulares, o clube da Gávea conseguiu empatar a partida. E ainda arrancou para o bicampeonato nacional.
Tanto Palmeiras quanto Flamengo lutarão pelo tricampeonato da Libertadores. E pelo sonho de disputar o Mundial de Clubes, nos Emirados Árabes.
O Flamengo venceu o Mundial de Clubes em 1981. O Palmeiras não ganhou a competição. Ganhou a Copa Rio, em 1951, e luta há décadas para provar que foi Mundial. Não foi.
Daí a provocação flamenguista.
Para acabar com ela, só há uma solução a curto prazo para o Palmeiras.
Vencer no dia 27 de novembro, em Montevidéu.
E conquistar o Mundial nos Emirados Árabes.
Até lá, Gabigol continuará com sua provocação favorita.
“O Palmeiras não tem Mundial.
“Não tem Copinha, não tem Mundial…”